Elisabeth Rochat de la Vallée
Uma relação se estabelece sempre que seres se encontram. Ela é ainda mais
forte quando esses seres se focalizam um no outro, dirigindo a atenção para o
outro, como é o caso entre o paciente e o terapeuta. O que se passa no
tratamento é também o que se passa entre eles.
Essa relação entre paciente e terapeuta possui múltiplas facetas. Nós
consideramos alguns aspectos tratados nos textos clássicos chineses. Eles se
relacionam à atitude do grande terapeuta e às condições de um diagnóstico
claro. É disso que falaremos principalmente.
Antes que Sun Simiao 1 faça no prefácio de sua obra maior o retrato do
Grande médico, perfeito tanto no plano do conhecimento e da pratica que no da
ética, os textos, posteriormente reunidos sob o título de Huangdi Neijing 2, se
interessavam à atitude tanto interna que externa do terapeuta. Eles falam de
sua forma de ligação com o paciente, da finesa do conhecimento do paciente que
ele constrói pelas observações e suas questões. Eles se interessam também pelas
percepções e sensações que a presença do terapeuta e todo o ambiente
despertam no paciente.
Uma forma geral de abordar essa relação é de considera-la como um caso
particular das trocas de qi (氣) pelas
quais os seres interagem constantemente com tudo o que possa lhes tocar e tudo
o que eles possam atingir.
A maior parte dos seres interagem seguindo modelos [1]
inscritos em sua natureza própria sem ter o poder de desviar-se. O caso do
homem é diferente pois ele é responsável pelo movimento de seu qi, de sua
maneira de agir e reagir. O que implica que tanto o terapeuta como o paciente
sao responsável pelo que se passa na relação pois eles são responsáveis da
forma precisa, quer dizer, ela conformidade ao modelo natural, dos
movimentos de qi neles.
O paciente, por definição, tem uma desordem mais ou menos instalada no
equilíbrio yin yang de qi nele, pois essa é a própria definição de doença, tal
qual encontramos no Suwen:
“Nessas atividades contrariadas do yin yang consistem em as doenças, que
são uma oposição ao movimento natural (此陰陽反作病之逆從也). ” (Suwen
capítulo 5)
O terapeuta deve se abrir suficientemente para perceber o desequilíbrio do
paciente e ao mesmo tempo manter-se ele mesmo em um equilíbrio o mais
perfeitamente possível, sem ao mesmo tempo manifestar nenhuma oposição. Isso não
é feito simplesmente, mas unicamente por uma pratica guiada, um constante
trabalho sob si mesmo. Daí a importância dada ao mental a à vida interior,
constituída pelo querer e pelo proposito (志意) que são a
disposição interna com sua própria orientação. Esse par representa o
funcionamento do Coração -mental (心)[2]; ele é ao
mesmo tempo o resultado do funcionamento do Coração e o instrumento através do
qual um humano trabalha sobre si mesmo, quer dizer sobre seu Coração.
Trocas de qi organizadas e normalizadas
As trocas de qi são codificadas segundo a ordem natural ou celeste; é
a organização que o homem percebe nas incessantes transformações que tecem as
existências. A organização segundo o yin yang e os Cinco agentes (ou elementos)
(陰陽五行) se refere a modalidades fundamentais de atividade o
conjunto das manifestações da vida no universo, para permitir conhecer como
cada um desses cinco qi opera, a maneira como ele interage com todos os outros,
de onde ele vem e para o que se dirige.
Os materiais necessários para a manutenção da vida, os Cinco agentes
(Madeira, Fogo, Terra, Metal e Agua) são os grandes tópicos de base de uma
cosmologia fundada em correlações ou correspondências; elas organizam o
universo em séries de fenômenos ligados uns aos outros, em cada série e em
outras séries. Os fenômenos e seres pertencentes a uma série dividem o mesmo
qi. Tudo o que existe é assim dividido em cinco grandes rubricas ou categorias
segundo os cinco qi representando o modo de atividade de cada agente.
A doutrina do yin yang e dos
Cinco elementos (yin yang wu xing 陰陽五行) serve
assim de base para uma apresentação organizada dos fenômenos da vida e para uma
análise permitindo uma ação eficaz; ela é então largamente utilizada na
elaboração das teorias médicas.As realidades exteriores e interiores ao corpo são qualificadas assim. Por
exemplo, considerando os cinco qi enviados pelo Céu: o frio é associado à agua,
o vento à madeira, o calor ao fogo, a humidade à terra, a secura ao metal.
Faz-se o mesmo para os órgãos, as partes do corpo, as emoções os aspectos do
mental e do espirito, os órgãos dos sentidos (ou orifícios superiores) etc.
Cinco órgãos foram selecionados representando os Cinco agentes construindo
e mantendo a vida no ser humano: Fígado-Madeira, Coração-Fogo, Baço-Terra,Pulmão-Metal e Rins – Água.
Os wu xing 五行 sendo
os cinco modos de atividade da vida, cada uma se manifesta no ser humano como um órgão o qual ele guia o bom funcionamento. Suas
interações organizam as trocas e as influencias mutuas segundo ciclos bem
definidos. Cada fenômeno se encontra assim no espaço e no tempo e recebe em
consequência as regras mestre de suas transformações e evoluções.
As relações entre esses qi ou modo de atividades são padronizadas e
expressas em “ciclos” ou interação. Esses ciclos indicam como um qi afeta os
outros qi ou elementos e como ele é afetado por eles e como reage. Sendo que
esses qi são também as modalidades operatórias dos órgãos, os ciclos permitem
reconhecer a coerência dos sinais clínicos, estabelecer um diagnóstico e de
interromper um tratamento.
Em medicina chinesa, chamamos “imagens dos órgãos” (藏/臟象) aquilo que parece cada
órgão.
Um órgão está ligado à um agente (elemento), ele apresenta traços
característicos que associamos à uma imagem /modelo especifico; o órgão se apresenta também, em
um dado momento, com patologias que vão também se associar à modelos. Podemos
assim analisar o estado de um órgão e modelizar sua situação, prever as
evoluções, conhecer os efeitos de tal ou tal intervenção.
A saúde é o respeito da ordem natural nos movimentos e trocas dos
sopros que se fazem no individuo, sob o mesmo modelo que eles se fazem na
natureza.
O que implica que o conhecimento de um órgão não é o conhecimento de sua
massa anatômica (mesmo se ela é ligada ao que é o órgão), mais é antes de tudo
o conhecimento do movimento dos sopros que o órgão representa e que trabalha em
todos os níveis da vida de um indivíduo.
O conhecimento do funcionamento normal e da patologia de um órgão passa pela compreensão do qi elementar ao qual o órgão está ligado.
O conhecimento do funcionamento normal e da patologia de um órgão passa pela compreensão do qi elementar ao qual o órgão está ligado.
O Fígado é associado à Madeira , à primavera , ao leste onde nasce o sol ,
ao vento que sucinta a atividade , à cor verde , ao sabor ácido etc.
Assim, a observação e a inteligência do qi que faz aparecer a primavera e pulsa
a seiva das raízes até o alto do galho vegetal, que faz com que o sol se
levante à leste , que se manifesta como vento capaz de movimentar, de levar
para longe, de limpar os obstáculos , mas com o perigo de se tornar um furacão
destruidor , dá uma ideia real e eficaz do que chamamos Fígado em medicina
chinesa. O Fígado antes de ser uma massa orgânica é o modo de ação de um qi
especifico na fisiologia, na psicologia e no mental; aquele que abre as
passagens, libera as obstruções, faz circular até o exterior e até o fazer,
força e flexibilidade à atividade muscular, da coragem para ir decididamente
para frente, permite de projetar seu espirito no futuro, de ver longe, de
imaginar e de raciocinar etc.
O qi do Fígado se manifesta na forma corporal (unhas), nos líquidos que
saem (lagrimas), nas atividades sensoriais (visão), nas emoções (cólera), etc.
Todos os níveis comunicam como eles interagem com as quatro modalidades do qi.
Podemos ler e interpretar os sinais mostrados pelo paciente, o que conduz o
tratamento. Este conhecimento não é leve e superficial, ele demanda uma longa
pratica, uma arte de observação, um funcionamento mental livre e concentrado,
uma inteligência que associa as analogias com fineza, que reconhece as imagens
(símbolos, modelos象) aos sinais percebidos no
paciente e que, graças a eles, é capaz de analisar e de interpretar estes
sinais.
O terapeuta deve conhecer esses qi e seus modelos de interação para estimar
suas desordens no paciente e poder trabalhar em suas retificações no paciente e
também em si mesmo. Conhecendo-os, ele sabe ler os sinais e estabelecer um
diagnóstico que compreenda tudo o que se relaciona com a fisiologia e a
psicologia assim como as disposições internas, o estado de espirito. Ele deve
lapidar constantemente suas percepções do qi e sua compreensão de suas
múltiplas manifestações.
O paciente emite todo tipo de sinal : a maneira como ele se apresenta ,
anda, fala; a maneira pela qual seu corpo emite sons e barulhos ou como seu
olho brilha ou se ofusca ;os tons sutis do rosto pelo sangue e qi que circulam
nele (tez);as múltiplas diferenças sentidas na palpação, o ritmo, a força, a
profundidade de seu fluxo sanguíneo (pulsos),os inchações e vermelhidão , as
dores as quais analisa-se minuciosamente a localização e a natureza...tudo é
sinal , pois tudo é manifestação do qi tal qual ele é e age no paciente .Tudo
faz sentido ,pois é uma manifestação do qi , o sinal revela o qi e permite
apreendê-lo em sua natureza e seu futuro.
Um sintoma é assim o sinal visível no exterior de uma desordem interna nas
trocas dos sopros comandadas pelos 5 zang.
A realidade interna das trocas de sopros se manifesta no exterior; nele se
reflete o bom e o mal estados, a ordem ou a desordem dessas trocas.
Aquele que compreendeu verdadeiramente e profundamente a natureza dos
diferentes qi dos 5 órgãos as pode interpretar com precisão os sinais que lhe
mostram o corpo, a atitude, as emoções, o mental o estado de espirito do
paciente. Para essa interpretação, o terapeuta utilizará os modelos que lhe
oferecem o conhecimento e o raciocínio fundados na analogia, as imagens (象).
A doença sendo sempre um desequilíbrio nas relações dos sopros yin yang, o
diagnostico observa as manifestações desses sopros e as analisa de forma a
conhecer as causas e processos de desordem. O tratamento restabelece a melhor
ordem possível nas trocas e interações, as sucessões e transformações do yin
yang.
O que mostra um paciente em um dado momento é sempre um conjunto de qi que
estão mudando. Para uma mesma pessoa, nenhum diagnostico não é feito uma vez
por todas; nenhum tratamento ode ser fixado antecipadamente. Sobretudo para
indivíduos diferentes. Os tratamentos não podem ser repetitivos. A abordagem
particular e pessoas deve ser renovada a cada encontro, mesmo se o conhecimento
e a maneira de raciocina seja idêntica em todos os casos.
O qi do terapeuta, tal qual ele é e se move nele, é parte
integrante do tratamento. Um terapeuta cujo os sopros estão equilibrados
envia uma mensagem de retificação ao paciente que intervém o tratamento de uma
maneira não manipulável mas real, ao lado de tudo o que o terapeuta cultiva
estritamente na relação para um melhor conhecimento e entendimento: calma do
lugar, escuta benevolente da pessoa , consideração de sua história, de
seu terreno, da estação , do lugar , do clima , dos diversos fatores do meio
ambiente (família, trabalho, ...)etc. Uma atenção ao qi do paciente e ao
conjunto de qi no qual ele está constantemente mergulhado , e consequentemente em interação.
A restauração de um equilíbrio melhor e de uma situação mais harmônica,
mais próxima dos movimentos vitais como eles procedem naturalmente, pode levar
a pessoa afetada a operar uma transformação no mais profundo dela mesma, onde
sua vida é comandada, em seu coração, seu espirito. É então que se
obtém a cura; a mudança no coração da pessoa permite que a ordem restabelecida
não seja mais perturbada ela mesma causa, pois o que comanda, em suprema
instancia, o movimento dos sopros fica numa melhor harmonia com os processos
naturais da vida.
Retirar um sintoma para que outros apareçam em seguida pois não se atingiu
sua raiz não é interessante. O que importa é nutrir a vida.
A Relação na Elaboração do Diagnóstico
O estabelecimento do diagnóstico é fundado na relação; ela permite a
observação apropriada do que é percebido pelos órgãos dos sentidos como o que
se conhece pela inteligência e o raciocínio; ela implica também o que dá
acuidade a esses conhecimentos. Encontramos normalmente esses aspectos
apresentados juntos, cada um participando necessariamente à elaboração do
diagnóstico e à realidade da relação.
“Para todo tratamento, é necessário observar em baixo, estar em
conformidade com os pulsos (脈), examinar
a orientação interna (志意) assim
que as características da Doença”. (Suwen cap.11)
凡治病. 必察其下. 適其脈. 觀其志意與其病也.
Encontramos os aspectos essenciais do diagnóstico e da relação que ele
supõe:
- A observação dos sinais clínicos lidos no corpo. Que em baixo significa a
região sob orbital ou a s fezes, se trata sempre da interpretação do que é
visto.
- A palpação dos pulsos que dá acesso ao equilíbrio vital do paciente.
- A apreciação das disposições internas, incluindo as emoções, tudo o que é
sentido, os desejos.
- O conjunto dos sinais que caracterizam a doença, a coleta dos sintomas.
Cada um desses aspectos tem suas especificidades próprias; a interação na
relação é mais ou menos forte, mis ou menos consciente, mas ela é sempre ativa.
De forma geral, a relação terapêutica, considerada do lado do terapeuta,
apresenta dois grandes aspectos:
- A leitura dos sinais manifestados pelo paciente efetuada pelo terapeuta e
as condições da inteligência deles,
- Os sinais que a presença, a atitude e a disposição interior do terapeuta
enviadas ao paciente durante o exame e o tratamento.
O diagnóstico pode se detalhar segundo que ele coloca em jogo a palpação, a
vista e o olhar, a palavra e a escuta, o discernimento dos odores, o tocar, o
comportamento.
Palpação
A palpação compreende a tomada dos pulsos (切診): coloca-se
um ou dois dedos em lugares do corpo onde uma artéria passa próximo da
superfície para ser percebida e estima-se a qualidade do fluxo vital formado de
sangue e sopros; as informações recolhidas ensinam sobre o estado do
equilíbrio geral assim como sobre o funcionamento dos diferentes órgãos.
Os pulsos que são normalmente apalpados são os que se encontram no punho, sobre
a artéria radial, ou seja, os pulsos radias.
Ela engloba também diversas palpações: o abdômen ou outras partes do corpo;
o corpo ao longo dos meridianos; zonas e pontos precisos (dolorosos em certas
afecções), etc.
Olhar
O diagnóstico pela observação visual (望診)é a
inspeção dos sinais apresentados pelo corpo e a atitude do paciente de maneira
a conhecer o estado dos órgãos internos .Examina-se a pupila e o olho , o
brilho e a qualidade do olhar , o rosto e a tez , a mobilidade dos traços
e eventuais tiques , a vascularização superficial , a língua e as
características dos outros orifícios :se a boca é aberta ou fechada , se o
nariz escorre ou esta entupido etc. Examina-se as fezes e as urinas , assim
como os líquidos que saem dos orifícios (mucos, escarros, lagrimas).Considera-se
a maneira como o paciente se apresenta :sua atitude , seu andar , seu modo de
movimentar , e todos os sinais reveladores de seu estado de espirito
;observa-se os sinais gerais do corpo (obesidade, emagrecimento, astenia,
fadiga, edema, vermelhidão, deformação, etc.).
Auscultação e Olfato
A auscultação e olfação (聞診) compõem o
diagnóstico pela escuta dos sons e o discernimento dos odores. Escuta-se a
qualidade e intensidade dos barulhos que o corpo emana: respiração,
refluxos, soluços, tosse, ruídos intestinais; o tom, o fluxo e a força da voz;
a maneira de se expressar (murmúrios, clareza, logorréia ...). Sente-se os
odores que emanam do corpo e da boca (hálito),
das urinas e das fezes...
das urinas e das fezes...
Na observação visual, na palpação, audição e olfato é o terapeuta que é
ativo e considera o paciente. No entanto, há sempre uma interação, pois, a
presença do terapeuta com seu qi vai introduzir modificações no comportamento
do paciente e no movimento de seu qi. O terapeuta atinge e move o paciente pelo
seu olhar e pelo seu toque. Estima-se a maneira pela qual o paciente reage a
esse olhar do terapeuta e à concentração mental e/ou espiritual do terapeuta.
Pela observação diagnostica, o terapeuta procura estimar a qualidade da
vitalidade do paciente sob a forma do par yin yang formado pelo sangue e pelo
qi (血氣). Todos os órgãos participam
à elaboraçã do composto xueqi (血氣) e a seu
fluxo.
O xueqi veicula o que permite a vida fisiológica, mas também psicológica;
assim toda emoção perturba imediatamente o ritmo do fluxo. O xueqi torna
presente em todos os lugares do organismo o que está no Coração, incluindo a
capacidade de perceber e conhecer, tudo o que forma o espírito, a consciência.
Nesse fluxo vital se inscrevem todos os disfuncionamentos.
Quando o xueqi está desequilibrado, o fluxo sanguíneo é regular, os batimentos
dos pulsos normais, a tez radiante e sem alteração de cor, o olhar é claro, as
ideias claras, os movimentos fáceis e fluidos, etc.
O terapeuta observa o paciente e reconhece os sinais graças à qualidade de
seu xueqi próprio.
Ele deve estar o mais equilibrado possível, continuaremos sobre esse ponto mais adiante.
Ele deve estar o mais equilibrado possível, continuaremos sobre esse ponto mais adiante.
Quando o terapeuta sente com seus dedos uma artéria do paciente ou mergulha
seus olhos nos do paciente, um contato se estabelece que, em um como no outro,
atinge a realidade profunda de seus seres. Como veremos, nada deve distrai-los;
numa situação ideal, nada parasita esse contato que se faz espirito a espirito,
além da consciência clara. Pela palpação e o olhar, o terapeuta dá sinais ao
paciente através seu xueqi, sinais que ele não manipula e dos quais eles não
tem consciência, pois é a qualidade da vitalidade, tal qual ela se apresenta no
terapeuta que trabalha ou não por uma ação exercida voluntariamente. Essa
qualidade se constrói dia a dia e não pode ser mentira; ela advém da sinceridade
essencial (精誠) tais qual encontramos por
exemplo nos textos do Zhuangzi ou do Huainanzi.
Todo terapeuta sabe que, às vezes, na tomada dos pulsos, de uma palpação ou
de outro contato da mesma ordem, uma imagem ou informação surge nele que não
vem de seu conhecimento consciente ou de seu raciocínio, mais que se impõe e se
revela, normalmente, pertinente. Entretanto, isso não pode jamais constituir um
conhecimento utilizável de forma repetida. De um lado é preciso sempre
desconfiar da influência de seus próprios desejos e tendências sobre o que pode
surgir espontaneamente em si mesmo. O paciente, ou tal expressão de seu qi,
pode induzir uma reação no espirito do terapeuta, contra sua vontade. O
terapeuta deve ser alertado dos efeitos possíveis do qi do paciente nele, assim
como sob seus desejos e tendências próprias que podem influenciar seu
discernimento.
Sempre a interação entre o terapeuta e o paciente é presente de maneira
completa mesmo quando parece que somente o terapeuta age e o paciente é
passivo.
Questionamento
Essa parte do diagnostico apela mais diretamente à relação pois existe a
troca de palavras e de informações entre o terapeuta e o paciente.
O diagnóstico por interrogação do paciente (問診) inclui as anamneses. Interroga –se sobre tudo o que entra
e sobre tudo o que sai do corpo
(habitos alimentares e digestão, micção e defecação) ,sobre os movimentos
organicos e as sensaçoes internas (sensibilidade ao quente e ao frio ,
transpiração, dores na cabeça e no corpo, congestionamentos,
mal estar torácicos e abdominais, regras e perdas vaginais ,
etc.).Sobre o funcionamento dos órgãos dos sentidos (gostos na boca, qualidade
da audição e da visão, zumbidos, etc.). Questiona-se o paciente sobre sua
história, sua situação e as mudanças em sua vida. Os choques emocionais, seus
sentimentos e sobre seu ambiente psicológico no trabalho ou em casa, sobre a
qualidade de seu sono e sobre seus sonhos...
As “Dez questões ” (十問) são as
questões tipo que um bom pratico deve colocar para fazer o diagnóstico.
Questiona-se principalmente sobre o frio e o calor ressentido pelo corpo (寒熱), a transpiração (汗), (as dores) na cabeça e no
corpo (頭身), as necessidades (便), o regime alimentar(飲食), os problemas sentidos no
peito (胸), os sons percebidos (聲), os vários tipos de sede (渴), as
antigas doenças (舊病), as causas do
desencadeamento do mal atual (因).
Acrescenta-se todas as questões consequentes das respostas ou que são
sugeridas pela vista, pela audição ou olfato de alguma coisa, ou ainda que veem
ao espirito do terapeuta quando ele está conectado com o paciente.
Questiona-se sobre a situação do paciente para conhecer seu estado de
espirito, para identificar as emoções como fatores de desordem, como
perturbadores do movimento do qi.
As emoções possuem um papel primordial na gênese e na evolução das doenças.
Elas se manifestam em medicina, como uma exageração, um excesso em um movimento
particular do qi.
“ O Imperador pergunta: eu queria saber por quais qi são produzidas as Cem
doenças.
Quando existe cólera, o qi sobe.
Quando existe euforia, o qi se relaxa.
Quando existe tristeza, o qi desaparece.
Quando existe medo, o qi desce.
Quando existe frio, o qi aperta.
Quando existe calor, o qi sai para o exterior.
Quando existe sobressaltos, o qi se coloca em desordem.
Quando existe fatiga, o qi se deteriora.
Quando existe pensamento obcecado, o qi se enrosca”.
Suwen (cap.39).
帝曰善.余知百病生於氣也.怒則氣上.喜則氣緩.悲則氣消.恐則氣下.寒則氣收.炅則氣泄.驚則氣亂.勞則氣耗.思則氣結.
Cada perturbação no movimento do qi leva a sintomas que afetam a vida fisiológica
tanto quanto a mental.
Certas patologias emocionais perturbam profundamente a relação com os
outros;
Elas culminam em loucuras e delírios. Entretanto, antes de estar em um
estado que mereça ser nomeado delírio ou loucura, a razão começa a ser tocada
assim que um desequilíbrio, mesmo mínimo, aparece no movimento de qi por causa
das emoções, dos desejos, das preocupações, etc.
Cabe ao terapeuta ler os sinais sutis do início desse desequilíbrio que, se
não for corrigido, vai se ampliar, acentuando os sintomas e fazendo-o aparecer
posteriormente.
Ele liga as emoções ao qi do agente associado e conhece assim a natureza do
desequilíbrio e como compensá-lo. Assim uma cólera é um excesso no qi da
Madeira, que é o Fígado no homem; em consequência, o qi sobe muito fortemente,
o yang se esquenta exageradamente, destruindo o sangue do qual o Fígado é
responsável. Claro que cada situação se apresenta com sua complexidade e sua
análise é bem mais refinada. Na base, encontramos habitualmente a associação de
um estado emocional, mais ou menos antigo ou violento, com o qi de um agente e
de um órgão.
É indispensável reconhecer se uma emoção, um sentimento ou ressentimento
está na origem do mal para lhe tratar corretamente. Senão, o tratamento não
pode ser apropriado e o doente não pode se curar.
O terapeuta deve assim detectar em si todo início de emoção, desejo ou
paixão, seu raciocínio, suas percepções, suas interpretações sendo claras e
justas. É o que se encontra, por exemplo, no início do
Zhongyong 中庸, retomado inúmeras vezes
depois.
Os capítulos 77 e 78 do Suwen sublinham a importância dos sentimentos,
situações e mudanças de situação no paciente. Aqui estão algumas passagens:
“ Sempre, quando desejamos diagnosticar uma doença, é preciso questionar sobre
os hábitos alimentares assim como sobre as atividades. Se o paciente teve uma
euforia violenta ou uma forte amargura, se ele gozou das alegrias da vida e em
seguida sua amargura, isso tem consequências na essência e no qi (sopro vital精氣) que se encontram desgastados e diminuídos, assim como o corpo ruinado e
destruído.
凡欲診病者.必問飲食居處.暴樂暴苦.始樂後苦.皆傷精氣.精氣竭絕.形體毀沮[………]
No diagnóstico existem três regras imutáveis. É sempre preciso
perguntar ao paciente se ele teve favor ou
desfavor; se ele ocupou uma posição importante e foi destituído; se ele
tem a ambição de se tornar príncipe ou rei.
Se alguém de uma alta posição e destituído de seu poder, mesmo se ele não
foi atingido por agentes patológicos externos, seu espirito vital (精神) fica ferido internamente e o
corpo necessariamente é destruído e a vida desaparece.
Alguém de que rio se torna
pobre, mesmo que não atingido por perversos, sua pele se encarquilha e sua
força muscular enfraquece; ele manca (痿躄)[3] e é
tomado de câimbras (sem duvidas na perna).O médio que é não capaz de ser suficientemente rigoroso (em seu
diagnóstico) não será capaz de mexer com o espirito (do paciente, 動神); no exterior (o corpo do paciente) se amolece e se enfraquece e a
desordem ira até fazê-lo perder as regras imutáveis (os movimentos de qi, 常). A doença não pode mais ser descartada e a medicina será impotente. ”
(Suwen cap.77)
診 有 三 常 , 必 問 貴 賤 , 封 君 敗 傷 , 及 欲 侯 王 ? 故貴 脫 勢 , 雖 不 中 邪 , 精 神 內 傷 , 身 必 敗 亡 。始 富 後 貧 , 雖 不 傷 邪 , 皮 焦 筋 屈 , 痿 躄 為 攣 , 醫不 能 嚴 , 不 能 動 神 , 外 為 柔 弱 , 亂 至 失 常 , 病 不 能 移 ,則 醫 事 不 行
No Suwen cap.78, Huangdi alerta Lei Gong contra os quatro erros do mal
terapeuta. Ele retoma em parte o que é dito no precedente capitulo.
Lei Gong questiona:
"Eu segui as regras (os Clássicos, 經)[4] que me ensinaram e que são reputados perfeitos, mas às vezes faltas nos levam ao fracasso. Poderia me explicar isso?
"Eu segui as regras (os Clássicos, 經)[4] que me ensinaram e que são reputados perfeitos, mas às vezes faltas nos levam ao fracasso. Poderia me explicar isso?
O Imperador Amarelo responde: Você é jovem, seu saber (智) não é ainda suficiente e você associa os ensinamentos (recebidos dos
classicos) com as (praticas) diversas.
Os Doze meridianos e as 365 circulações conectivas, é isso que todo mundo
conhece e os práticos os seguem e utilizam. A razão pela qual fracassamos às
vezes é o espirito vital (精神) não concentrado (傳), que a disposição interna (志意) não está em conformidade com os princípios (da ordem natural da
vida, li 理) fazendo com que o exterior e o interior se percam (percam a boa relação
deles); aqui a razão das duvidas e perigos.
Estabelecer um diagnostico sem conhecer os princípios (理) das correntes e contra correntes do yin yang, é o primeiro erro do
tratamento.
Se, sem acabar de seguir o ensinamento do mestre, aplica-se temerariamente
todo tipo de técnicas diversas; toma-se por doutrina (道) os discursos falaciosos; Permite-se mudar as apelações estabelecidas para exaltar seu único mérito; usa-se sem razão socos de pedra de tal sorte que se atrai desgraças (ou que se dá crédito às criticas); esse é
o segundo erro de tratamento.
Se não se leva em conta a situação de pobreza ou de riqueza (do paciente),
de honra ou de desprezo (classe e dignidade social), da boa ou má qualidade do
lugar de residência, do caráter frio ou esquentado do corpo; se não se leva em
conta o que é conveniente beber e comer; se não se discerne entre o corajoso e
o covarde (5), se não se sabe utilizar as comparações e analogias, então isso é
suficiente para semear em si a confusão , mas isso não é suficiente para
clarear a inteligência (明);sendo o terceiro erro de tratamento.
Se se diagnostica uma doença sem questionar sobre sua origem, sua opressão
e sofrimento, o beber e o comer que perderam sua regulação,sobre as atividades
que passaram da medida ou ainda sobre um possível envenenemento ;se não se fala
de tudo isso antes (de colocar o diagnostico), e que se precipita
temerariamente sobre os pulsos radiais , então como se poderia acertar ?Ter
propósitos insensatos e inventar apelações (de doenças), é o que o grosseiro (prático ) faz até cansar. Isso é o quarto erro
de tratamento.”(Suwen cap.78).
雷 公對 曰 : 循 經 受 業 , 皆 言 十 全 , 其 時 有 過 失 者 , 請 聞 其 事解 也 。
帝 曰 : 子 年 少 , 智 未 及 邪 , 將 言 以 雜 合 耶 。 夫 經脈 十 二 、 絡 脈 三 百 六 十 五 , 此 皆 人 之 所 明 知 , 工 之 所 循用 也 。 所 以 不 十 全 者 。 精 神 不 專 , 志 意 不 理 , 外 內 相 失, 故 時 疑 殆 。診 不 知 陰 陽 逆 從 之 理 , 此 治 之 一 失 矣 。
受 師 不 卒 , 妄 作 雜 術 , 謬 言 為 道 , 更 名 自 功 , 妄用 砭 石 、 後 遺 身 咎 , 此 治 之 二 失 也 。
不 適 貧 富 貴 賤 之 居 , 坐 之 薄 厚 , 形 之 寒 溫 , 不 適飲 食 之 宜 , 不 別 人 之 勇 怯 , 不 知 比 類 , 足 以 自 亂 , 不 足以 自 明 , 此 治 之 三 失 也 。
診 病 不 問 其 始 , 憂 患 飲 食 之 失 節 , 起 居 之 過 度 ,或 傷 於 毒 , 不 先 言 此 , 卒 持 寸 口 , 何 病 能 中 , 妄 言 作 名, 為 粗 所 窮 , 此 治 之 四 失 也 。
Os erros de tratamento se alicerçam na relação e sua qualidade: pelas
questões colocadas para conhecer o estado de espirito do paciente, e pela
cultura de si do terapeuta tanto no plano do conhecimento técnico, do saber
teórico, que sobre o plano da realização interna, da vida interior.
Além das questões colocadas o terapeuta pode também falar com o paciente.
Ele lhe fala para dar conselhos ou pode simplesmente trocar o que toca e
emociona o espirito para que se inicie no paciente o processo de transformação
e de ura.
Essa palavra justa não é codificada, nem vem de uma aplicação técnica, pois
esses tetos não se referem à terapia pela palavra tal qual conhecemos
atualmente no ocidente.
Não se trata de uma psicoterapia pela palavra, mas da escuta benevolente e
da palavra justa que veem do coração bem cultivado e incessantemente esvaziado.
A palavra que “toca” o paciente é uma palavra humana que jorra na relação à
condição que aquele que a pronuncia seja bem inspirado. O terapeuta deve então
trabalhar suas fontes de inspiração, cultivar sua interioridade e esvaziar seu
Coração.
Poderíamos falar de uma palavra codificada, ou sobretudo ritualizada, nos
casos de exorcismo. Os exorcismos (祝由) foi durante muito tempo um dos departamentos da
medicina oficial, além do uso deles nos rituais taoïstas.
Encontramos no Suwen 13 uma referência a esses exorcismos que pode
fazer pensar também à uma palavra capaz de fazer movimentar o espirito:
“ Eu sei que na Antiguidade, tratávamos as doenças simplesmente “deslocando
as essências e modificando seus sopros” (移精變氣). Exorcizávamos por encanto o que
estava na origem delas (可祝) e estava
acabado. » (Suwen cap.13)
余聞古之治病. 惟其移精變氣. 可祝由而已.
O terapeuta há igualmente um dever de informação ao paciente:
"Os sentimentos do homem são tais que ele detesta a morte e ama a
vida. Quando (um terapeuta) adverte (um paciente) o que destrói esta vida e o
instrui sobre o que lhe é proveitoso, quando ele lhe indica o que é apropriado
e lhe faz compreender o que lhe traz sofrimento, mesmo se se trata de um ser
trapaceiro, porque ele não lhe escutaria? ” (Lingshu cap.29)
人之情.莫不惡死而樂生.告之以其敗.語之以其善.導之以其所便.開之以其所苦.雖有無道之人.惡有不聽者乎.
O que faz com que o paciente escute e compreenda o terapeuta? A experiência
mostra que não são nem a veracidade dos propósitos, nem o grau de inteligência
do paciente, nem mesmo o medo do sofrimento ou da morte que leva a uma
modificação durável dos comportamentos.
É porque alguma coisa a toca. Retornamos à « sinceridade
essencial » (精誠) do terapeuta e da abertura
que o tratamento e todos os sinais dados ao paciente conspiraram para fazer
aparecer.
Para tal, é preciso que uma
verdadeira conexão seja estabelecida entre o terapeuta e o paciente. Cabe ao
terapeuta de tomar a iniciativa dela e de velar pela sua realidade.
« O máximo do tratamento está no Un (yi 一).
Huangdi : O que é o Un ?
QI Bo: O Un é o que através do qual encontramos o acordo (de 得).
Huangdi: Como?
QI Bo: Feche as portas e obstrua as janelas; quando estiver conectado
ao doente, questione metodicamente e frequentemente sobre o que ele sente (qing 情, sentimentos, emoções do paciente), para seguir sua disposição interior (yi 意). Encontrar o acordo com o espirito, é resplandecência; o perder é
aniquilação. » (Suwen cap.13)
岐伯曰.治之極於一. 帝曰. 何謂一. 岐伯曰. 一者因得之. 帝曰.奈何.
岐伯曰. 閉戶塞牖.繫之病者.數問其情.以從其意.得神者昌.失神者亡.
O terapeuta entra na relação acompanhando o paciente mais sem deixar-se
desestabilizar com a desordem dele. Como diz o Suwen 14, O paciente é a base, a
raiz (本) e o terapeuta é os altos
ramos(標).
« Qi Bo diz: o doente é a raiz (本) e o
prático é os altos ramos (標).
Se os altos ramos e as raízes não se sintonizam, os qi perversos
(doentios) (邪氣)
não podem mais serem dominados. » (Suwen cap.14)
岐伯曰. 病為本. 工為標. 標本不得. 邪氣不服. 此之謂也.
Atitudes e
Movimentos do Corpo
Os gestos e
a atitude corporal são sinais que o terapeuta interpreta observando o paciente,
pois a maneira de se movimentar depende da qualidade do qi, de seu equilíbrio
yin yang, de sua repartição justa e circulação nos músculos e articulações.
Aqui também
o que ele percebe e o que vai forjar seu diagnostico não se reduz à leitura
correta desses sinais; o terapeuta há suas impressões, suas intuições que
emergem nele e às vezes se impõem sem que ele possa localiza-las no que
conhece. Cabe a ele se cultivar de tal maneira que suas impressões e intuições
possam ser justas e não o reflexo de seus desejos pessoais.
Entretanto, os gestos e atitudes do terapeuta são também sinais que o
paciente recebe e interpreta, mesmo que ele não tenha uma clara consciência
deles.
O terapeuta deve ter cuidado e controlar os próprios gestos e atitudes
porque fazem parte das influencias transmitidas ao paciente e também porque
testemunham de sua própria harmonia de qi.
“Para estabelecer um diagnóstico existem grandes princípios à serem
respeitados: sente-se e levante-se com regularidade, saia e entre segundo uma
conduta ordenada afim de concentrar sua inteligência espiritual 神明 (sob o
paciente). Seja puro, seja calmo para observar em cima e em baixo; examinar os
oito (qi) corretos ou perversos[5]; distinguir
as regiões próprias aos cinco internos (五中)[6]. Tome os
pulsos sentindo se eles estão agitados ou tranquilos[7], apalpe o
cúbito[8] para
apreciar a untuosidade ou rugosidade dele, tenha a ideia justa (意) sobre o frio e o quente[9], olhe bem a
grande e a pequena (necessidade do paciente), reúna todas as manifestações da
doença. Quando você apreendeu o que segue a ordem normal ou está contra a
corrente, você pode então nomear a doença. O diagnóstico pode ser completo e
perfeito não deixando escapar nada do que o paciente sente (情).
Para estabelecer um diagnóstico, observa-se a respiração assim como as
disposições internas (意). Nada sendo omitido no
encadeamento logico e metódico (條理), a maneira
de proceder (道) é claramente percebida. E
assim possível de durar muito tempo.
Aquele que não conhece essa maneira de proceder, deixa escapar as
normas 經[10] rompendo
com os grandes princípios 理, que
ele diz é desprovido de sentido e a conjuntura pensada é desprovida de fundamento;
isso se chama extraviar-se (失道). »
(Suwen cap.80)
是以診有大方. 坐起有常. 出入有行. 以轉神明. 必清必淨. 上觀下觀. 司八正邪. 別五中部. 按脈動靜. 循尺滑濇.寒溫之意. 視其大小. 合之病能. 逆從以得. 復知病名. 診可十全. 不失人情 . 故診之. 或視息視意. 故不失條理. 道甚明察. 故能長久. 不知此道. 失經絕理. 亡言妄期. 此謂失道
Quando ele
recolhe as informações em vista do estabelecimento do diagnostico, o terapeuta
deve ter gestos, formas de se movimentar, atitudes que sejam bem
reguladas; assim ele não deve ter movimentos bruscos ou intempestivos,
reações corporais que ou são sinais de desordem (mesmo leve) nele mesmo ou pode
levar essa desordem no qi.
Existe como
que um ritual, uma atitude semelhante a aquele que efetua um ritual. Como no
rito, o estado de espirito é mais importante que o gesto; o gesto não podendo
ser perfeito se a disposição interior não está em pleno acordo com a
circunstância presente.[11]
A atenção se
foca no paciente sem desvio. Mas ser capaz de não se distrair não é suficiente
para iluminar o discernimento, mesmo sendo uma condição necessária.
Sua atitude correta participa ao mesmo tempo à clareza de seu espirito e à
influência benéfica sobre seu paciente.A purificação é interna; ela vai além da simples atenção à conveniência
dos gestos; ela é diminuição de desejos, relaxamento das vontades, afim de
atingir a serenidade que permite o pleno uso da inteligência espiritual (神明).
Podemos dizer que o terapeuta cultiva sua apreensão justa dos sinais dados
pelo paciente e da pessoa do paciente tal qual ele se apresenta, afinando suas
percepções; afinar suas percepções, tornando-as sutis e penetrantes não se faz
pelo acumulo de conhecimentos, mesmo se eles são necessários para o
desenvolvimento técnico do agir.
Isso se faz pela realização interior das potencialidades do Coração que
residem fundamentalmente na capacidade de abertura ao processo da vida além de
todo pensamento, enunciado ou imagem. É o vazio do Coração que permite que
cheguem a si as reações justas à situação levando em consideração tudo o que o
mental pode perceber, a inteligência de compreende e também tudo o que escapa
constantemente a essa percepção. É a “ sinceridade essencial精誠 “.
Se trata então de uma conduta de sua vida, de uma pratica constante; não
pode ser simplesmente uma atitude composta para o tempo do tratamento ou para o
tempo que dura a interação com o paciente. É a realidade interior do terapeuta.
“Sangue- e -sopros são a flor do homem mais as Cinco vísceras são sua
essência .Sangue – e – sopros podem se concentrar nas Cinco vísceras ao invés
de se expandirem para fora , peito e ventre se enchem então na totalidade, os
desejos e cobiças perdem sua força .Peito e ventre estando inteiramente plenos
, desejos e cobiças sendo reduzidos à nada , o olho e o ouvido são claros
, a visão e a audição penetrantes .Uma tal perfeição para atingir seus objetos
pelos sentidos , é a iluminação (明)[12] . “
(Huainanzi, cap.7, Le Cerf, C. Larre)
是故血氣者,人之華也;而五藏者,人之精也。夫血氣能專於五藏而不外越,則胸腹充而嗜欲省矣。胸腹充而嗜欲省,則耳目清、聽視達矣。耳目清、聽視達,謂之明。
Podemos tranquilamente nos referir à passagem sobre o jejum do
Coração, em Zhuangzi cap.4:
“Unifique seu mental; não escute com os ouvidos, mas com o Coração
(espirito); não escute com o Coração mas com o qi (original). A escuta não vai
mais longe do que o ouvido recebe; o Coração não vai mais longe do que do que
ele reconhece; mas o qi é o vazio, pronto para receber toda coisa; é somente no
vazio que se recolhe a Via (como proceder segundo o movimento natural da vida);
o vazio, é o jejum do Coração. ” (Zhuangzi cap.4)
若一志,無聽之以耳而聽之以心,無聽之以心而聽之以氣。聽止於耳,心止於符。氣也者,虛而待物者也。唯道集虛。虛者,心齋也。
Quando o
vazio se faz, tudo pode estar presente e coexistir, sem que nada se apresente
separadamente e claramente no pensamento. As correlações se fazem, não porque
elas são conhecidas e aplicadas, mas porque correspondem ao real, pelo menos à
uma leitura do real que permite uma abordagem que não se desnatura. É
espontânea e instantânea ou fora do tempo. Isso se impõe como o rascunho
de ideia ou a direção a ser tomada. Em seguida veem as palavras que enunciam, a
memória do saber e da experiência que articula e define a ação, o gesto que
realiza.
Uma passagem do capítulo sobre o Trabalho interior (內葉) do Guanzi mostra o yi (意) emanando
do Coração como o rascunho de um pensamento
que não se anuncia ainda, de uma ideia que não é precisa; entretanto tudo se
passa no espirito e no mental, tudo o que decide da passagem ao ato e determina
sua qualidade procede assim.
“ O coração esconde um coração (心以藏心). No
centro desse coração, há ainda um coração. No coração desse coração, a intenção
(音 = 意) precede as palavras (言), da
intenção procede a (o colocar) a forma (形), da forma
procedem as palavras (言), das palavras
procede o fazer (使), do fazer procede a
regulação (治)[13].” (Guanzi
cap.49, Neiye)
心以藏心,心之中又有心焉。彼心之心,音以先言,音然後形,形然後言。言然後使,使然後治。
Podemos dizer que a palavra justa do terapeuta, aquela que toca o paciente
é o faz “se movimentar”, provém da intenção que emana do Coração vazio de todo
pensamento e de todo desejo. O terapeuta nem tem sempre a consciência do
alcance do que disse pois ele não falou com um sentido, mas dessa forma lhe
veio na relação e situação presentes.De uma maneira ou de outra, tudo o que se passa na relação terapêutica
repousa fundamentalmente na qualidade da disposição interna (意) do prático.
Se o vazio do Coração lhe é uma condição, a outra face é a o enchimento. Do
que o terapeuta nutre seu mental e seu espírito, seu conhecimento e sua
memória, o que compõe sua consciência e sua pessoa, quer dizer seu Coração e
seu funcionamento.
O Grande estudo (大學) reforça a importância do yi
(意), entre conhecimento dos
seres e das coisas e retificação de si mesmo.
“Para se aperfeiçoar, começamos por tornar autêntico sua intenção (誠其意). Para tornar autentica sua intenção, começamos por desenvolver seu
conhecimento; e desenvolvemos seu conhecimento examinando as coisas.
É examinando as coisas que o conhecimento atinge sua maior extensão. Quando
estendido o conhecimento, a intenção torna-se autentica; sendo autêntica a
intenção, o coração se torna lei. É tornando o coração lei que
aperfeiçoa- se. ”
(Trad. Anne Cheng )
先 脩 其 身 . 欲 脩 其 身者 . 先 正 其 心 . 欲 正 其 心 者 . 先 誠 其 意 . 欲 誠 其 意 者 .先 致 其 知 . 致 知 在 格 物 . 物 格 而 后 知 至 . 知 至 而 后 意 誠. 意 誠 而 后 心 正 . 心 正 而 后 身 脩
Sun Simiao, em seu prefacio do Qianjinfang 千金方, insiste
sobre a necessidade de nutrir seus conhecimentos corretamente e amplamente
antes de falar do estado do espirito do terapeuta. Aquele que quer se tornar um
grande pratico, recomenda-se estudar os clássicos da medicina, incluindo todos
as ramificações tais quais a acupuntura, moxabustão, fitoterapia. Mas também se
familiarizar com as técnicas da divinação e os modelos que elas utilizam. Além
de se cultivar lendo livros de história, os que expõem o pensamento confuciano,
a abordagem taoïsta (incluindo as práticas do yangsheng 養生) os sutras do budismo.
Não se trata de se dispersar ou de interpretar o sábio, mas de formar seu
discernimento, de forjar suas ferramentas
de investigação. Todos esses conhecimentos, se são bem entendidos e
corretamente e assimilados, participam à elaboração de uma intenção autentica,
a raiz de uma relação justa ao paciente, de um diagnóstico iluminado e de um
tratamento apropriado.
A Atenção e A Intenção
Quando o diagnóstico é claramente estabelecido, a ação terapêutica o
acompanha. No caso do acupunturistas, é a introdução da agulha. O corpo do
paciente é furado pela agulha que a mão do terapeuta segura.
A continuidade é ainda mais forte que na pintura ou na caligrafia onde o
gesto do artista despeja um fluxo de tinta animado pelo seu qi na tela.
Há continuidade entre as percepções e sua recepção no Coração, pois a
viagem do coração até o punho e os dedos.
Existe uma continuidade entre as percepções e a recepção delas assim como
suas interpretações no Coração .Em seguida , a viagem do coração em direção do
punho e dedos , fluidez do sangue e caminhada do espirito que chega até a ponta
dos dedos , levando tudo o que está na consciência , a intenção , assim como
tudo o que está escondido na consciência , a intenção mais também tudo o que se
esconde no Coração do terapeuta .É o que se transmite também através da agulha
e penetra um outro ser humano que reage.
O paciente reage com seu qi em todos os níveis, a agulha vai procurar o qi;
paciente e terapeuta, cada um de sua maneira, sentem quando ele é atingido. A
manipulação da agulha induz mudanças nas circulações assim como no
funcionamento orgânico (o que inclui emoção e mental). Ele reage também em seu
espirito.
O qi que opera e ao qual ele reage é continuadamente recompensado pelo
conjunto ofertado pelo terapeuta, dependentes de sua disposição interior ou
intenção (意).
O gesto do terapeuta leva em conta o diagnostico pelos aspectos práticos;
por exemplo, inserir ou rodar a agulha de uma certa maneira segundo que se
deseje tonificar ou dispersar.
Ele é também fruto da disposição interior, como ela é construída ao longo
da vida e segundo a maneira pela qual a vida é conduzida, e como se focaliza no
momento do tratamento. Ele reflete o que está dentro do Coração, o espirito do
terapeuta, como ele se constrói e realiza interiormente, como ele percebe e
reage, o yi profundo como ele reflete também o estado de espirito do momento
que vem dar precisão à essa disposição geral.
Tomemos alguns textos do Huangdi Neijing que falam do gesto terapêutico em
laço com a atitude interior do terapeuta e sua relação com o paciente.
“ Para toda verdadeira picada, é preciso inicialmente regular o espírito (治神). Somente após que o estado dos cinco órgãos zang seja bem estabelecido e
que os nove pulsos indicadores completamente tomados é que se pode colocar uma
agulha. ” (Suwen ch.25)
凡刺之真. 必先治神. 五藏已定. 九候已備. 後乃存鍼.
[………]
« Quando picamos, e que a mão se move com aplicação , que a força da
agulha seja bem homogênea , que uma disposição interior calma (靜意) considere o que convém ser feito , observando as mudanças que
acompanham ;isso se chama :obscura atenção (冥冥)[14]; nada
conhece suas formas (sensíveis).Como um voo de corvo, como cereal que se
espalha ;os vemos voar mas não sabemos o que o faz voar;(a agulha está) em
espera como (um arco de)flecha ela se levanta como uma mola que se ativa
. » (Suwen ch.25)
手動若務. 鍼耀而勻. 靜意視義. 觀適之變. 是謂冥冥. 莫知其形. 見其烏烏. 見其稷稷. 從見其飛. 不知其誰. 伏如橫弩. 起如發機.
A atenção dada ao paciente repousa sobre a calma, sobre uma disposição
interior que torna pronto para acolher todo sinal emanando do paciente, os que
observamos como aqueles aos não se pensava. Na “obscura atenção”, o que pratico
percebe se junta e se agencia no vazio do coração para informar seu pensamento
e guiar sua mão. O pratico sabe o que ele faz quando pica e, ao mesmo tempo, no
momento preciso do ato, existe um tipo de esquecimento e de espontaneidade que
dá a perfeição ao gesto. Como o musico que, quando toca, esquece o que está
tocando.
« Por « deixar-se levar », entende-se ir na contra corrente
(逆) e por “vir”, entende-se
seguir a
corrente(順)[15]. Quem
conhece se deixar levar e o trata sem ter problemas. Buscando (o qi) para
fortificar, como não conseguiria restabelecer o pleno? Se colocando diante e o
acompanhando, a harmonização obedece a intenção (意) do médico.
E aqui se encontra toda a arte da agulha”. (Lingshu ch.1)
往者為逆.來者為順.明知逆順.正行無問.迎而奪之.惡得無虛.追而濟之.惡得無實.迎之隨之.以意和之.鍼道畢矣.
[……]
“Na arte de segurar a agulha, é a firmeza que é preciosa. A agulha
deve se direcionar exatamente (sobre o ponto visado) e picar bem reta, sem
inclinar para a esquerda ou direita. O espirito no fio do outono [16], (o homem
da arte) volta toda sua atenção (意) sobre o doente;
ele examina minuciosamente os capilares (血脈) e pica de
forma certa.
Quando ele se prepara para picar, ele deve colocar o yang em alerta e
mobilizar as duas defesas; fixando seu espirito (sobre o paciente) sem se
desviar, ele sabe se a doença continua ou desaparece.
Quando os capilares passam transversalmente onde se situa (o ponto visado),
ele observa distintamente e os apalpa para apreciar a firmeza deles. “ (Lingshu
cap.1)
持鍼之道.堅者為寶.正指直刺.無鍼左右.神在秋毫.屬意病者.審視血脈者.刺之無殆.方刺之時.必在懸陽.及與兩衛.神屬勿去.知病存亡.血脈者.在殃橫居.視之獨澄.切之獨堅
Quando não se esquece a técnica, não se para de colocar seus olhos ou suas
mãos sobre o paciente; as informações sensíveis, palpáveis chegam continuamente
e se organizam segundo os princípios da ordem natural conhecida e reconhecida.
Ao mesmo tempo, focaliza – se a atenção, deixando seu espirito aberto à
chegada do imperceptível, do que está além do sensível e de uma outra ordem do
que as interpretações de suas manifestações na forma. A inscrição corporal é
sempre presente, não se pode deslocar dela; o que ela indica toma sentindo no
que dá sentido à vida.
“Quando se está em um lugar tranquilo e retirado; que se olha para os presságios
das entradas e a chegada do espírito. Tendo fechado fortemente
portas e janelas, as almas Hun e Po (魂 魄) não se dissipam; a concentração dos pensamentos (a focalização da
intenção) (專意) unifica o
poder espiritual (神), de tal forma que o sopro
vital (精氣) se reparte como deve. Quando
nenhum barulho vindo dos homens não toca os ouvidos, o recolhimento da essência
(da pura vitalidade, 精) se faz
E o espirito sem um (unificado e com o movimento da vida em si mesmo), o
querer (志) está presente na agulha”.
(Lingshu cap.9)
深居靜處.占神往來.閉戶塞牖.魂魄不散.專意一神.精氣之分.毋聞人聲.以收其精.必一其神.令志在鍼.
Na mesma linha, uma passagem do cap. 54 do Suwen retoma
e explica suscintamente as frases um tanto enigmáticas do cap. 25 da mesma
obra:
“Que nada venha perturbar seu espírito (神): o querer
(zhi 志) pacífico, considere seu
paciente, sem desviar seus olhares à esquerda ou à direita. Que seu movimento
quando coloca a agulha não desvie: a retidão exige a retificação (正).
É imperativo retificar seu espírito: olhe o paciente nos olhos, regule seu
espírito. Você assim verá circular o qi (氣) com
facilidade. “ (Suwen 54)
神無營於眾物者. 靜志觀病人無左右視也. 義無邪下者. 欲端以正也. 必正其神者. 欲瞻病人目. 制其神. 令氣易行也.
O querer pacífico significa que nada agita o mental, que nenhum desejo
particular existe, nem mesmo o de curar.
“ A obsessão de ficar no vazio impede estar vazio. Quem nada fará para
estar vazio, o vazio acontece naturalmente o vazio vai por si; em seguida
aqueles que se apegam ao vazio são incapazes de atingi-lo." (Huainanzi
cap.11)
常 欲 在 於 虛 , 則 有 不 能 為 虛 矣 ; 若 夫 不 為 虛 而 自 虛 者 , 此 所 慕 而 不 能 致 也 。
Quem poderia se contrapor ao desejo legítimo do terapeuta de curar seu
paciente? Não se trata de não querer curar seu paciente, e sim de não de se
bloquear nesse desejo, ter necessidade para si mesmo. Para que serve esse
desejo do terapeuta se ele existe para participar à sua autossatisfação, para
lhe enviar uma boa imagem de si mesmo? Não somente isso não serve para nada
para o paciente, como pode prejudica-lo, pois, a presença de um desejo, mesmo
aquele de aparência legítima e melhor, por um lado, é um obstáculo à abertura
do espírito no mundo sensível há tudo o que que está para ser observado e
interpretado do outro, e por outro lado, ao mistério mesmo da vida.
A justiça que demanda a retificação pode ser compreendida como a posição da
agulha, bem direita; ou também como a atitude do terapeuta, sua atitude
externa como sua disposição interna. É o conjunto dos qi do terapeuta que são
direitos, que se movem regularmente em torno de um centro firmemente
estabelecido e enraizado. Essa destreza incita os qi do paciente a se regularem
por eles mesmos; ela assegura a perfeição do gesto técnico da mão que manipula
a agulha como ela influencia sutilmente o paciente no mais profundo de si
mesmo.
A retificação do espírito é uma correção da desordem que deve se enraizar,
como todo tratamento, no espírito.
“Para toda picada, o método é antes de tudo não faltar o enraizamento aos
espíritos. ”
(Lingshu cap.8)
Concluindo, algumas passagens do prefácio de Sun Simiao de seu maior livro,
o Qianjinfang, no qual ele expõe sua ideia do terapeuta perfeito.
“Quando o grande médico trata um doente, ele deve estar calmo em seu
espirito (安神) e determinado em sua
intenção (定志), sem nada desejar (無欲) ou buscar (無求). Antes de tudo, que ele
desenvolva um coração de compaixão em seu íntimo e se consagre a preservar as
criaturas que contém os afluxos espirituais (os seres vivos, o homem por
excelência).
Se alguém em meio ao sofrimento vem procurar ajuda, ele não olha sua
posição social ou sua riqueza, sua idade ou seus charmes, sua amizade ou sua
animosidade (a simpatia que ele suscita ou não) sua raça chinesa ou não, seu
conhecimento letrado ou ignorante.
Quando ele considera cada um em sua igualdade. Quando ele os considera
todos como pensando ao que ele tem de mais querido. Que ele não olhe as consequências,
nem se preocupe de sua boa ou má fortuna. É assim que ele vai ter cuidado com
sua vida (de cada um).
Que ele considere os que estão na aflição como se se tratasse de sua própria aflição. Nas profundezas de seu coração, que ele lhes seja empático.
Que ele considere os que estão na aflição como se se tratasse de sua própria aflição. Nas profundezas de seu coração, que ele lhes seja empático.
Que ele não ceda à dificultades do caminho (a ser feito para tratar), de
dia ou de noite, sob tempo glacial ou canicular; que ele não ceda nem à sede,
nem à fome, nem ao cansaço. De todo seu coração que ele socorra (os outros).É
assim que ele se conduz como grande médico .Senão, ele rouba os que vivem.
凡大醫治病,必當安神定志,無欲無求,先發大慈惻隱之心,誓願普救含靈之苦。若有疾厄來求救者,不得問其貴賤貧富,長幼妍媸,怨親善友,華夷愚智,普同一等,皆如至親之想。亦不得瞻前顧後,自慮吉凶,護惜身命,見彼苦惱,若己有之,深心淒愴,勿避險,晝夜寒暑,飢渴疲勞,一心赴救,無作功夫形跡之心。如此可為蒼生大醫。反此則是含靈巨賊。
[..........]
A “substancia “ (realidade fundamental, 體) do grande
médico é que ele deseje purificar seu espírito, ter o olhar interior (內視) e observar tudo o que se manifesta. Seu porte é magnânimo e digno; ele
não é nem reluzente, nem sombrio. Ele conhece seu doente e faz o diagnóstico
com uma disposição interior perfeita (至意) e nas
profundezas de seu coração. Ele examina com muito cuidado os sinais que o corpo
apresenta. Ele inclui os mínimos detalhes e não deixa nada lhe escapar. ”
夫大醫之體,欲得澄神內視,望之儼然,寬裕汪汪,不皎不昧,省病診疾,至意深心,詳察形候,纖毫勿失,
Tradução Emilia Firmino
[1] 理 ou 天理 é uma forma corrente de
expressar as leis intrínsecas que organizam os movimentos da vida em cada ser
ou fenômeno e que se deixam se identificar em suas manifestações.
[2] Para simplificar, na
maior parte do tempo dizemos Coração para significar uma realidade que engloba
os domínios das emoções, dos afetos, da psicologia, do intelecto, do mental, do
conhecimento, da consciência, assim como a realização interior ou espiritual.
[3] O Suwen cap.44 é
consagrado às patologias ditas wei 痿 que cobrem diferentes
tipos de paralisias, distrofia e atrofia musculares do qual o mancar é um sinal
característico… Nas causas levando à um calor patológico em um ou outro dos
cinco órgãos zang, três são de origem emocional, as duas outras ligadas ao frio
e ao calor. O calor do Pulmão é assim explicado como consequência de uma
frustação, de uma perda não aceita (como a falta de consideração ou perda de
fortuna). A recusa da nova situação bloqueia o qi do Pulmão, que, por sua vez,
bloqueia o qi do Coração, gerando calor. A pessoa se consome tendo cada vez
menos a possibilidade de se dá conta. Enquanto o paciente não aceitar a
situação, nenhum tratamento poderá ser verdadeiramente eficaz; ele poderá
mesmo, ao contrário, aumentar a desordem e enfraquecer o paciente.
[4] 經 : Se
trata seja de normas de equilíbrio, seja dos meridianos, ou ainda dos
sois ao mesmo tempo, os meridianos sendo os organizadores e reguladores dos
movimentos de qi no ser. Lei Gong conhecia bem o sistema dos meridianos e ele
seguia as regras de organização da vida.
[5] São os qi específicos
dos oito pontos da rosa dos ventos, correspondendo às oito articulações do
ano: equinócios e solstícios assim como os quatro inícios de estação.
Esses qi são corretos quando eles chegam em seus tempos, sem excesso. Eles são
nefastos ou perversos quando eles não estão em seus tempos.
(sinal de morte ).
[10] 經: como anteriormente (nota 6)se trata ou das normas de equilíbrio, ou dos
meridianos, ou ainda dos dois ao mesmo tempo, os meridianos sendo os
guardiãs da normalidade na qualidade e nos movimentos de vitalidade
representada pela união de sangue e qi (血氣).
[11] Cf.
Liji, Liqi 2.Um homem sábio, nas cerimônias (simples) que reclamam todos os
sentimentos de seu coração e toda a atenção de seu espírito, age com o maior
respeito e mostra sentimentos sinceros. Naquelas que são belas e brilhantes,
ele se aplica sobretudo a testemunhar de sentimentos sinceros.
(Trad. Couvreur) 君子之於禮也,有所竭情盡慎,致其敬而誠若,有美而文而誠若。
[13] Mesmo
que não seja o sentido prioritário desse texto, podemos notar que o caractere治 é o mesmo que se emprega pata tratar.
[14] Em um
certo número de textos, como o Zhuangzi, essa obscuridade 冥 implica um laço com a origem, com a vida como ela procede, com a fonte da
luz que ilumina a inteligência.
[12] 明 : A luz interior que ilumina a inteligência e lhe permite agir
segundo o movimento mesmo da vida.