quarta-feira, 8 de junho de 2022

ZHUANG ZHI - Capítulo XIX

                                                                     

COMPRENDER A NATUREZA DA VIDA

OU

A ATIVIDADE DO CORPO LIMPO 

In, AS OBRAS DO MESTRE ZHUANG Tradução Jean Levi

 

 

 

Aquele que compreendeu a natureza da vida, não se preocupa com o que ultrapassa as possibilidades de sua constituição inata; da mesma forma, aquele que entendeu a natureza do destino não se esforça para conhecer aquilo que excede os limites da inteligência. Pensa-se que, para alimentar o corpo, deve-se de antemão ter com o que alimentá-lo; mas pode acontecer que se possa dispor de uma pletora de bens, sem chegar, todavia, a fortificar o organismo.

Para que haja vida, é necessário que o corpo não seja negligenciado; mas, pode acontecer que a vida desvaneça sem que o corpo seja negligenciado. A vida, ninguém pode impedir a sua vinda, ninguém pode impedir sua partida. Mas infelizmente, os homens comuns imaginam que é suficiente nutrir seu corpo para preservar a vida, enquanto, é claro, não é nada disto. Pois como bastariam para tanto os cuidados que o homem comum aplica? Todavia, apesar de insuficientes, eles não são menos indispensáveis, e é por isto que não se pode evitar assegurá-los.  Mas quem quer ser dispensado de ser escravo de seu corpo deve se retirar do mundo. Abandonando o mundo liberta-se de todo laço; sem vínculos, encontra-se de humor igual e regulado. Quem tem humor constante e regulado renova-se a cada instante no mundo que o circunda. Quem ressuscita a cada instante quase alcança o Tao.

Por que, você me dirá, as tarefas cotidianas merecem ser abandonadas e o cuidado com a vida renegado? Quem abandona as ocupações, não conhecerá a fadiga; quem se desinteressa da vida não usará o seu espírito. Quando o corpo preserva sua integridade e o espírito recuperou todas as suas potencialidades, então o ser se faz uno com o Céu. O Céu e a Terra são os pais e mães de todas as criaturas. Sua união dá nascimento aos seres, sua separação anuncia um novo recomeço.  Aquele cujo corpo e espírito não conhecem a decrepitude, sabe abraçar todas as mudanças; refinando seus espíritos sutis até torná-los ainda mais sutis, ele acaba se tornando o ministro do Céu.



Tradução feita do francês feita por Maria Cristina Vidal, Tony Gelband, Rosinês Veras, Liliane Rénault.

ZHUANGZI ch. 5 - Trad. Jean Lévi

  O Tao deu-lhe a sua aparência e o céu a sua forma, porque deixaria que as paixões prejudiquem o seu corpo? Você se deixa distrair pelo mu...