sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

A Tristeza - 悲 – Bei





Elisabeth Rochat de la Vallée *


Traduzido por Fernando Assis de Carvalho

A TRISTEZA NORMALMENTE EXPERIMENTADA

Tristeza e aflição, antes de serem patológicas, são reações, sentimentos normais e desejáveis. A tristeza devora interiormente frente à morte de um pai. Não se deve negá-la, nem a impedir, mas sim, exprimi-la:

Quando retiramos a urna funeral (para preparar o enterro) o filho chorava, se lamentava et saltava um número de vezes indeterminado. Sob o peso da dor e da tristeza do seu Coração, dentro da penível agitação de seu espírito (yi ), nos abraços da tristeza e da aflição (bei ai 悲哀), ele despiu o braço esquerdo e saltava, na intenção de acalmar seu Coração (an xin 安心) e de reduzir seu fôlego (xia qi 下氣) colocando seus membros em movimento’’ 
(Liji, Memórias sobre decoro e cerimônias, S. Couvreur, tradução revisada)

Observamos que o colocar do corpo em movimento impede que a respiração se bloqueie no peito, o que facilitará o retorno à normalidade.
Podemos também dizer que as manifestações exteriores da tristeza associam esta última com os movimentos e gritos rituais. A diminuição de suas manifestações, sempre, segundo as prescrições rituais, leva também à diminuição da tristeza ao mesmo tempo, porque nos autorizam a estar menos tristes e porque a ligação estabelecida entre a tristeza e suas manifestações incita naturalmente uma redução comum.
Se o luto e a tristeza são normais, eles não devem durar. Em três anos (frequentemente 25 meses, primeiro mês do terceiro ano contado por um ano inteiro), devemos retomar a vida normal:

“Um filho, à morte de seu pai, chorava sem interrupção durante três dias; em três meses ele não tirou nem a faixa e nem o cinto de cânhamo; durante um ano (ele chorava manhã e noite) com um profundo sentimento de tristeza (bei ai 悲哀); seu sofrimento (opressivo, you ) durou três anos. Os testemunhos de enfermidade estavam, assim, reduzindo. A dor decrescia com o tempo, os sábios antigos haviam determinado como sua manifestação deveria diminuir gradualmente. Por isso, então, a duração do luto foi fixada em três anos e a liberdade não foi deixada aos mais sábios para prolonga-la, nem aos menos sábios de reduzi-la.” (Liji, Mémorias sobre decoro e cerimônias, S. Couvreur II, p.704, tradução revisada)

A tristeza avançando até a angústia é, assim, o sentimento próprio que experimentamos frente à morte, aquele que deve se sentir o “filho devoto” à morte de um parente, e primeiramente de seu pai. É o luto conduzido, o sentimento que acompanha a partida definitiva do vivo que transmitiu a vida. O Livro dos Ritos é abundante em considerações sobre a tristeza e a angústia; ele descreve as manifestações físicas, as alterações da aparência, as atitudes do luto da alma; ele mostra como o grito, choro, saltos de dor são maneiras de fazer a tristeza ser suportável, de diminuir a angústia intensa pelo movimento dado ao corpo e como todo o processo deve ser, em Três anos, para trazer de volta a paz no Coração do angustiado.

Desde já, observamos o quanto a tristeza e a angústia carregam golpes repetitivos ao sentimento profundo de existir, à vivacidade que procura se exprimir e surgir, a se desprender continuamente. Observarmos um luto de um pai, mas sempre por três anos. Seguir o luto, de um tempo passado, seria um excesso; a recusa da realidade, tenha sido ela dolorosa, agrava o sofrimento e destrói a saúde. Carregar o luto de si mesmo, experimentar o sentimento de perda da vida sendo que vivemos ainda é uma perversão grave. A vida se vinga e a morte é gerada do próprio luto, pois nós abalamos o interno, atacamos o centro da vitalidade, viramos as costas à razão.

A TRISTEZA, SENTIMENTO DO PULMÃO

A tristeza bei: o Coração que (se) recusa : o virar de costas da pessoa para ela mesma no seu Coração, como uma presa à contradição, à negação, possivelmente à negatividade. O esgotamento que resulta desta luta estéril destrói o sopro na região do Coração e do Pulmão. A oposição rompe a comunicação que emana do Coração e corta a alegria da vida; o bloqueio se torna fraqueza, dor, desolação.

“Quando as essências e os sopros anexam o pulmão há tristeza (bei ).” (Suwen 23)

A tristeza corresponde ao Pulmão e é a perversão do movimento do metal. Este último tem o corte das espadas e das foices que cortam cabeças ou ceifam os cereais. Ele é também o ritmo que marca o fim da expansão yang e o começo do retorno ao yin. O metal é condensação e concentração a fim de trazer as riquezas da vida ao interno. Na tristeza, ele se torna compressão que tritura o Coração, incomodando também a circulação do sangue, o qual a qualidade diminui e que expande os Espíritos; esta obstrução aniquila igualmente os líquidos e os sopros do Pulmão.

“Quando há tristeza os sopros são destruídos (xiao ). [...]
Quando há tristeza, o sistema relacional próprio do Coração (xin xi 心繫) está fechado, o pulmão se dilata e suas folhas se levantam; o Aquecedor Superior não garante mais suas comunicações; reconstrução (nutrição) e defesa (ying wei 營衛) não se difundem mais; os sopros quentes estão no centro. É assim que os sopros são destruídos.” (SuWen 39)

É o oposto da alegria que permite a reconstrução, assim como a defesa de se propagar facilmente. O contrário, a tristeza aperta o Coração; o que não é uma metáfora, pois o exagero na concentração própria do Metal aperta as vias pelas quais o Coração se comunica. O sistema relacional próprio do Coração é primeiramente o de conectar o Coração com os outros órgãos, conexão imaterial e espiritual, mas que se torna visível pela circulação sanguínea, em especial pelas artérias que partem do Coração. Os sopros do Pulmão, tomado pela tristeza, bloqueiam as passagens e a circulação de sangue e sopros, ao invés de assegurar suas propagações até os confins do corpo. Os sopros bloqueados no peito geram o calor; calor que destrói os sopros.

Podemos acrescentar que o Coração não podendo mais comunicar pelo sangue e pelos sopros, não pode mais propagar a luz de sua razão, dar inspiração à mente, manter dentro da realidade da existência.

TRISTEZA E CHORO

A mesma situação descrita anteriormente explica também o fluxo de lágrimas, eventualmente acompanhado de catarro, que acompanha a tristeza.

“Os líquidos corporais (jin ye 津液) dos cinco Zang e dos seis Fu sobem até se infiltrar no olho; se o Coração é tomado pela tristeza e os sopros os anexaram (o ocupam indevidamente todo o conjunto, bing ), o sistema relacional do próprio Coração (xin xi 心系) se fecha; o sistema do Coração também se fecha, o Pulmão se eleva e quando ele se eleva os líquidos ye extravasam no alto. Como no sistema do Coração e do Pulmão não podem estar constantemente elevados, ora eles se levantam, ora eles abaixam, é por esta razão que tossimos e que as lágrimas caem.” (Lingshu 36) [1]

O mecanismo é simples: a tristeza comove o Coração pela perversão dos sopros do Pulmão-Metal. O bloqueio dos sopros no peito faz o Pulmão se dilatar e impede de preencher sua função de abaixar os líquidos no tronco; os sopros, impedidos de descer pelo calor que reina no peito, ecoa para cima, impulsionando os líquidos para o exterior. Estes líquidos saem pelo olho, às vezes também pelo nariz, orifício próprio do Pulmão; os sopros e líquidos podem também fazer como uma bola na garganta e emitir sons que são os do pranto.

O derramar das lágrimas é, além disso, conectado ao cérebro, órgão rico em essências e em fluidos preciosos e densos, e em comunicação com os orifícios da face (olho, nariz, orelha). O cérebro é percorrido pelo meridiano conectado ao Fígado, e o olho, o orifício próprio do Fígado, é também, o local de contato do meridiano ligado ao Coração.

A irregularidade dos sopros do Pulmão explica também a tosse ou soluços, assim podem ser pegos por aquele que é esmagado de tristeza.

A TRISTEZA E O CORAÇÃO

Bem sendo o sentimento próprio do Pulmão, pela especificidade do movimento dos sopros que ele induz, a tristeza é frequentemente associada ao Coração, o qual o impede a expressão livre e feliz. A tristeza é, então, o oposto da felicidade, da alegria que se manifesta pelo riso.

No SuWen, cap. 62, lá onde o excesso dos sopros do Coração se traduzem por um riso incontrolável, a insuficiência destes mesmos sopros se traduz pela tristeza. Ou mesmo:

“Quando os sopros do Coração estão em vazio, há a tristeza (bei ); quando eles estão em plenitude, rimos sem poder parar.” (Lingshu 8)

Examinando os pares dos caracteres que exprimem os sentimentos, relevamos de forma habitual, a alegria fazendo par com a raiva e, paralelamente, a felicidade fazendo par ora com a tristeza (bei ), ora com a aflição (ai ).

O caractere para aflição (ai ), representa os gritos, gemidos e lamentações que saem da boca daquele que revestiu os hábitos especiais do luto. A aflição sentida à perda de um ente querido; a dor do luto, publicamente manifestada.

Tristeza e aflição são opostos à alegria de viver, a alegria do Céu, próprio a toda a vida humana que se aceita e se possui. A tristeza torna uma recusa da vida. Em um sentido patológico, os movimentos e reações que implicam a tristeza se opõem àqueles que implicam uma alegria excessiva, possivelmente delirante.

A tristeza aparece regularmente como o sentimento que alguém experimenta quando os sopros do Coração estão bloqueados ou sem força para circular.

“Dor de cabeça devido a um refluxo (ou queda, jue ) onde as circulações (mai) na cabeça são dolorosas, o Coração está triste (bei ), temos a tendência a chorar (shan qi 善泣)...” (Lingshu 24)

Podemos compreender que o Fígado possui os sopros em contracorrente em subida, onde as circulações do sangue e sopros, congestionados, tornam-se dolorosas. Mas, ao mesmo tempo, ele impede o Pulmão de descer e induz um bloqueio em seu nível. O Coração não se beneficia mais do impulso fornecido pelo Fígado para o ajudar a fazer circular, mas sofre do bloqueio; resultando na tristeza. A tendência a chorar é forte pois a contracorrente advinda do Fígado faz pressão sobre os líquidos dos olhos.

Quando falamos do bloqueio dos sopros, da dificuldade em fazer circular o sangue, da agressão levada ao Coração e da falta de comunicação deste último, demonstramos, na verdade, a disfunção daquele que deve proteger o Coração e de o fazer comunicar com o resto da pessoa: o Xinbaoluo (心包絡) ou proteção (bao ) e conexões (luo ) próprias ao Coração (xin )[2].

Assim, quando descrevemos uma situação onde os perversos atingiram o Coração, falamos na verdade de uma situação onde o Xinbaoluo é atingido, quer dizer, uma situação onde o sistema de conexões próprios ao Coração é incomodado, impedido de completar sua tarefa.

“Quando os perversos estão no Coração, o convalescente tem cardialgias com uma tendência a estar triste (xi bei 喜悲); às vezes ele cai do avesso sem conhecimento. ” (Lingshu, 20)

Os sopros perversos fazem pressão sobre a região do Coração. A tristeza aqui não é um sentimento devido a um luto ou um evento real; ela é o resultado da mudança induzida na mente, a sensibilidade, quer dizer, o Coração, pelo bloqueio dos sopros.

Se este bloqueio se agrava, as comunicações são completamente fechadas; o Coração, as consciências, a faculdade de estar consciente, não estão mais presentes no nível dos órgãos dos sentidos e se perde a compreensão.

Ao contrário, a tristeza compromete a boa distribuição do sangue, impede as proteções e conexões do Coração (Xinbaoluo) de comandar regularmente as circulações sanguíneas (xue mai 血脈). Os efeitos podem atingir diferentes partes do corpo, como o baixo ventre onde o útero coleta o sangue, onde o Intestino Delgado guarda separado os líquidos corporais e o sangue controlando seu fogo.

“Quando a tristeza e a aflição (bei ai  悲哀) são intensas, as proteções vitais e suas conexões (bao luo 胞絡) se rompem (jue ); estando rompidas, os sopros yang (yang qi 陽氣) se agitam no interior (nei dong 內動). Quando isso desencadeia, o coração faz descer sob forma de hemorragia uterina et frequentes hematúrias. ” (Suwen, 44)

O Suwen, cap.39, nos mostrou a tristeza fazendo obstáculo às circulações que partem do peito e como os sopros, bloqueados, desaparecem, destruídos pelo calor. No Suwen, cap.44, as conexões próprias às proteções vitais se interrompem sob a pressão dos sopros e os sopros yang, aprisionados, se excitam e criam a agitação. O sangue sai dos seus canais, e mesmo do corpo, sob a pressão do calor.

A expressão “as conexões próprias às proteções vitais” (bao luo 胞絡), pode ser entendida aqui de diversas maneiras:

- É o Xinbaoluo (心包絡), os envelopes que protegem o Coração e as redes de conexões que emanam para religar todo o ser ao Coração, centro da vitalidade consciente e mestre da circulação regular do sangue. O calor excessivo da região do Coração atrapalha o padrão de circulação que ele dá ao sangue; a manifestação se faz no nível do orifício interior anterior.

- É o meridiano extraordinário Chongmai que dá a o primeiro padrão de organização da circulação do sangue no ser em formação e que se espalha no peito.

- São os trajetos dos sopros ligados ao útero, lá, onde uma nova vida se agasalha e se protege, uma ligação com os Rins nas mulheres.

O que quer que seja, há um mau reflorescimento dos sopros, obstrução e calor provocando um esfacelamento no interior; a defesa e as comunicações do Coração são mal garantidas; os Rins estão implicados e o Fígado também.

O Fígado está implicado em diversas denominações: ele acumula o sangue, quer dizer que ele regula a quantidade de sangue a guardar em reserva ou a liberar no corpo, por um esforço muscular, para a menstruação... etc. Ele dá o impulso para as circulações e emissões até a sua saída do corpo; nesta denominação, ele participa na regulação dos orifícios inferiores. Privado de essência, de yin, por contrabalancear seu mal dinamismo, o Fígado perde a paciência, gera um calor que produz circulações erráticas no baixo ventre. O Intestino Delgado, associado ao Fogo, é particularmente sensível a este calor; ele pode perturbar seu funcionamento e provocar hematúrias. O Coração pode igualmente transmitir este calor ao Intestino Delgado.

A TRISTEZA E O FÍGADO

Já vimos o Fígado implicado em diversas patologias ligadas à tristeza. Ele é apresentado seja como a principal causa da tristeza, seja como a função afetada por isso; que o Pulmão-Metal domina o Fogo-Madeira no ciclo de dominação (ke) não é estranho a esse fato.

“Em caso de tristeza (bei ), os sopros do Pulmão montam (colidindo sobre os do Fígado).” (Suwen 19)

Como no Lingshu, cap.24, analisado anteriormente, a agitação do Fígado, produzida pelo vento, induz uma contracorrente de sopros que incomodam e enfraquecem as comunicações do Coração e faz com que sintamos facilmente tristes.

Mas a tristeza atinge o Fígado também, porque a desaparição dos sopros, tolhidos internamente, priva o Fígado do dinamismo necessário a seu bom funcionamento.

“Quando o Fígado está preso pela tristeza e a aflição (bei ai 悲哀), nos emocionamos no centro, então, se produz um ataque aos Hun. Os Hun atingidos, perdemos a razão (kuang , loucura) e nos tornamos esquecidos; ficamos sem essência (jing ); estando sem essência, não podemos mais garantir os padrões; é a situação onde o aparato yin se contrai, onde a musculatura se crispa, onde as costelas de ambos os lados não podem mais se levantar. Os pelos se tornam quebradiços e damos todos os sinais de uma morte prematura. Se morre no outono” (Lingshu 8)

A tristeza se opõe ao impulso da felicidade em direção ao florescimento que é próprio do Fígado. A tristeza é uma recusa; ela contradiz nosso próprio desejo de ir adiante. Por que você está tão triste? Porque você não tem o gosto do esforço espontâneo que faz o movimento vital.

A tristeza se torna uma inversão da vitalidade. Ao invés de espalhar seus galhos e suas folhas em todas as direções, esta planta na primavera que eu sou, retorna contra si mesmo sem ímpeto; veja como agora eu ataco o meu interior.

O efeito produzido é inconfundível. As almas Hun, que são a inteligência e a sensibilidade, reflexão e imaginação, contrariadas em sua liberação e livre movimento, se aterroriza e se esquece. Uma loucura que vai até a fúria. A raiva é associada ao esquecimento, pois não se pode mais fazer um retorno à própria memória, até a destruição da personalidade.  

O Fígado se esvaziando de sua substância, não há nada mais para segurar os Hun para voltar à razão. O sangue não oferece mais uma ligação de expressão aos Hun, pois ele está desnaturado pela agitação e por que o contato com o Coração é difícil pelo bloqueio dos sopros. As essências que se exprimem no sangue do Fígado acabam por faltar.

A falta das essências, em relação com o Fígado, perturba a retidão da realização da vida que depende da fidelidade dos Hun à inspiração das Consciências.

A Vesícula Biliar, o aspecto mais yang, o mais masculino do Fígado é implicado, pois ele não assume mais a retidão e a exatidão das condutas.

A normalidade se torna desorientação; os sopros corretos não podem mais se livrar das essências deficientes; o centro é abalado, o padrão não possui mais uma base.

Alguns dirão que o yang do Fígado e da Vesícula Biliar, muito forte, torna-se inflamação, fogo que vira em direção ao Pulmão-Metal, para lhe causar danos pela inversão do ciclo de dominação (ke); bela expressão da involução quando se retorna contra si mesmo suas forças vivas ao invés de desenvolvê-las.

O sangue não seguindo mais sua via e as comunicações com o Coração estando interrompidas, como os Hun poderiam receber a iluminação das Consciências do Coração para se conformar e as seguir fielmente?

Os Hun não estando mais inspirados, a perda do sangue diminuindo as essências, o cérebro se enfraquece, as essências não se resplandecem mais com a presença das Consciências para o bom funcionamento dos orifícios superiores. A inteligência e a claridade que estão em dependência dos Hun, consequentemente os fenômenos da loucura e do esquecimento. Esta loucura é furiosa (kuang ), pois é um calor e uma agitação yang.

O Fígado controla a atividade muscular; quer dizer que ele dá o dinamismo e o vigor que cria a força do movimento ao mesmo tempo que ele libera a quantidade de sangue requerida pelo músculo afetado pelo esforço. Se as essências secaram no nível do Fígado, não há mais sangue suficiente para irrigar os músculos; crispação e nódulos se manifestam. O espaço central no baixo-ventre, na região do períneo é percorrido pelo meridiano do Fígado que sustenta a musculatura dos órgãos genitais; ele se contrai e se retrai, não podendo mais se desenvolver.

As costelas são percorridas pelos meridianos do Fígado e da Vesícula Biliar. A imobilização desta região é uma consequência da retração do aparelho genital e da crispação muscular. É também a região de localização do Fígado e o sinal de que o dano está agora em seu ponto extremo de involução.

Os efeitos devastadores da tristeza que nascem no interno e mudam a vida a partir do seu centro culminam, finalmente, como é o caso por todas as emoções, perturbando duravelmente e fortemente o ser em direção à morte.

A morte é o outono, a estação onde o yang cede frente ao yin, onde o movimento do retorno a si deve ser iniciado. O desconforto já instalado se redobra de efeitos do ambiente yin que a estação do outono traz com ela. Morre-se no outono e a qualquer período tendo a natureza do outono. Morre-se quando tudo está se recolhendo – mas não temos mais florescimentos, nem essências. Morre-se na colheita dos sopros – mas eles são aniquilados – e ao abrigo das consciências – mas eles não são mais guardados pelas essências deficientes ou confortadas pelos Hun atingidos.

Tristeza e raiva

A tristeza pode gerar a raiva seguindo um processo simples. A tristeza bloqueia as circulações dos sopros, o que exerce uma pressão sobre o Fígado, atrapalhando seu dinamismo. O bloqueio dos sopros do Fígado causa um calor reativo que vai esquentar o sangue e excitar o yang, induzindo uma situação de raiva. É uma evolução que se observa por exemplo nos casos de luto intenso, onde a pessoa se coloca com raiva contra o ente querido que está morto sem nenhuma razão particular.




[1] Um texto similar se encontra no Lingshu cap.28.
[2] Algumas vezes indevidamente traduzido como pericárdio. Seu meridiano, O Jueyin da mão, é um dos dois meridianos ligados ao Coração, aquele que tem a mesma qualidade de sopros que o meridiano do Fígado, Jueyin do pé. O outro meridiano do Coração é o Shaoyin da mão.

ZHUANGZI ch. 5 - Trad. Jean Lévi

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