O PENSAMENTO,
FUNCIONAMENTO NORMAL DO ESPÍRITO HUMANO*
Elisabeth Rochat de la Vallée
FUNCIONAMENTO NORMAL DO ESPÍRITO HUMANO*
Elisabeth Rochat de la Vallée
O caracter que se traduz de bom grado por
“obsessão” quando se está na patologia das emoções é também aquele que pode
designar o pensamento em suas atividades mais nobres.
O pensamento e a reflexão são bons, quando
eles estão no estreito fio do savoir-faire; nada escapa então à grandeza do
espírito do homem:
“Quando o
pensamento e a reflexão (si lü 思慮) do homem santo estão em função do savoir-faire (sagesse, zhi 智), não há nada que
não esteja ao alcance de seu conhecimento.” (Guanzi, cap. 64 Xingshijie )
O Coração 心 sob a caixa craniana 田 abrigando o cérebro, juntos, forma o caracter si 思: Pensamento – concepção – refletir – considerar – lembrar – obsessão –
preocupação – suspirar por. A boa relação do Coração – e dos espíritos que nele
residem – com o cérebro permite o desenvolvimento do pensamento. Uma relação
ruim, uma perturbação do Coração proveniente dele próprio ou não, alteram o desenrolar
normal do pensamento e o perverte em preocupação e obsessão.
O Lingshu, cap. 10 ressalta nitidamente a
ligação direta entre o Coração e o cérebro; esta conexão pode passar pela
língua e olho. O meridiano do Coração, Shaoyin da mão,
“a partir do
sistema do Coração (xin xi 心系), enquadra a faringe e vai se conectar (xi 系) ao sistema que
liga o olho ao cérebro (mu xi 目系).
E o trajeto de ligação (o luo 絡),“segue o meridiano,
penetra no centro do Coração e se conecta (xi 系) à raiz da língua; ele faz obediência (se coloca sob a dependência de, shu 屬) ao sistema que liga o olho (ao cérebro, mu xi 目系).”
O Coração permite a fidelidade interior e, o
cérebro, o bom funcionamento dos orifícios de comunicação com o exterior. A medula
do cérebro é constituída por essências refinadas e sutis que manifestam a
potência original e oculta dos Rins nas alturas irradiantes do corpo, onde elas
têm a capacidade de acolher os influxos espirituais.
A boa relação do Coração, e dos Espíritos que
nele residem, com o cérebro permite o desenvolvimento do pensamento. São
necessárias a presença dos espíritos e a potência das essências mais sutis e
puras na extremidade mais alta do indivíduo, em contato com os influxos que
descem do Céu, para assegurar a mais nobre função do ser humano: o pensamento
que caracteriza a espécie.
O pensamento permite apreender os elementos do
raciocínio ou da consideração ao encadeá-los numa linha definida. Atinge o
âmago das realidades apresentadas com acuidade e penetração, de modo a
possibilitar a compreensão dos fatos a qual, por sua vez, leva à conjectura e à
planificação.
O pensamento desconhece a hesitação, mas permanece
na consideração. O tema é examinado e reexaminado; percebem-se melhor as
questões colocadas; mas não se questiona o princípio, pois sabemos o que
queremos e para onde tendemos, antes de reconhecer todos os pormoneres.
O início do Livro da História (Shujing) atribui ao imperador mítico Yao quatro grandes virtudes; saber pensar
é uma delas:
“Yao revela uma vigilância
assídua, uma inteligência penetrante, uma exímia distinção, um pensamento
prudente; naturalmente e sem esforço.”
Mas se o indivíduo não sabe parar seu
pensamento quando ele atinge seu objetivo, se ocupa o seu espírito com um
esforço incessante de pensamento, se chega a considerar que não se preocupar é ser muito despreocupado,
então o pensamento obscurece e desvia a razão; seu uso desregrado desgasta a vitalidade.
O Suwen repete o que dizem todos os livros de
sabedoria:
“Ao exterior, eles (os Sábios) não
sobrecarregavam seus corpos de afazeres. Ao interior, eles não se atormentavam
com preocupações (si xiang 思想). A alegre serenidade era o que eles buscavam. Eles se ocupavam da
plena possessão deles próprios.” (Suwen, ch. 1)
Nos textos médicos, o pensamento, antes de se
pervetir, é igualmente apresentado como uma das grandes funções do espírito
humano:
“Quando a vontade
que se mantém se modifica, falamos em pensamento.” (Lingshu 8)
Longe de ser um paradoxo, descreve-se o processo
que forma o pensamento:
“O conjunto formado pelo propósito e a vontade (a disposição interior, yi zhi 意志), estando-se fixado, vira e revira os dados, calculando, supondo, medindo; é então o pensamento.”(Zhang Jiebin)
“O conjunto formado pelo propósito e a vontade (a disposição interior, yi zhi 意志), estando-se fixado, vira e revira os dados, calculando, supondo, medindo; é então o pensamento.”(Zhang Jiebin)
Buscam-se todas as possibilidades de mutações e de alterações, porém sem
vacilar, sem que a ancoragem, a orientação, a direção e o propósito, uma vez
escolhidos, sejam questionados. Avalia-se e calcula-se sobre bases seguras e
estáveis, à procura da eficácia. As facetas de um projeto inicial, de uma
inspiração ou de uma idéia, são inspecionadas, mas não se deve brincar com um
projeto, com um pensamento. Não conseguir deter-se numa idéia é patológico, na
mesma medida em que é patológico não conseguir jamais mudar nada, quando uma
nova era se anuncia ou quando as circunstâncias mudaram.
O PENSAMENTO,
MOVIMENTO DO BAÇO-TERRA
Movimento Normal
O pensamento é apresentado aqui como a
faculdade de conceber e combinar os planos com sabedoria e analisar as
circunstâncias com profundidade. Ele é fundamentado sobre a memória das percepções e dos conhecimentos, das
experiências e das cogitações. Ele é o processo pelo qual todos estes elementos
se ligam e se combinam.
Estas atividades sobressaem do elemento Terra: a Terra recebe as
sementes, amadurece-as e dá a cada uma o que lhe é apropriado. A Terra permite
a mistura e a comunicação do que vem para seu seio; assim a água pode nutrir a vegetação e se transformar em
seiva... O pensamento, baseando-se em toda a memória, permite as permutações,
as compenetrações e colocar em relação, o
que conduz à tomada de forma.
O pensamento é então associado ao Baço, que
encarna a Terra no ser humano:
“A Terra [....] Nos zang, é o
Baço [....] Nas vontades, é o pensamento (si 思).” (Suwen 5)
Des regramento
“O pensamento
obsessivo (si 思) prejudica o Baço, a cólera o arrebata no
pensamento obsessivo.” (Suwen 5)
Quando os movimentos de sopros – análogos aos
do Baço-terra – que elaboram o pensamento não são corretamente regulados, então
o pensamento se transforma em preocupação, inquietação, tormento, obsessão.
Este pensamento obsessivo poderá
tomar diversas cores e ser inquieto ou ansiosamente agitado, desanimado ou
alarmado; poderá gerar obstáculos e paralisar o pensamento ou o transformar em
máquina louca e repetitiva.
A repetição que pode ir até a compulsão,
marca bem a deterioração do Baço. No lugar de circular e de evoluir, de ser
transportado e transformado, o pensamento estagna no lugar, atola na umidade, como viajantes mal equipados
na floresta. No lugar de avançar, anda-se
em círculos. Os sopros que já não conseguem
circular, se bloqueiam e fazem nós:
“Quando há
pensamento obsessivo, o Coração tem onde morar (constantemente e obsessivamente),
os espíritos têm onde se referir (sem
parar e sem evolução); os sopros corretos (zheng qi 正氣 ) permanecem no lugar e não circulam. É assim que os sopros são amarrados (jie
結 ).” (Suwen
39)
Fica-se preso na mesma imagem, na mesma idéia;
fica-se preso na mesma coisa, incapaz de se liberar de um pensamento que ocupa
todo o mental e mobiliza todas as forças.
O Coração está implicado, pois ele é a sede de todas as emoções e o lugar do
pensamento.
Como o pensamento
é uma “emoção”,é pouco habitual no Ocidente, tratar o
pensamento como uma emoção. Sem querer retomar aqui a definição das emoções ou
a análise da noção em Chinês, dirá-se simplesmente que o pensamento é um movimento
específico de sopros no interior do mental, naquilo que constitui a trama e a
substância da vida interior, naquilo que marca as tendências que vão determinar
as reações e as ações da vida. Neste sentido, é uma emoção. Sua normalidade é o
equilíbrio com os outros movimentos de sopros. Sua patologia desequilibra o todo
por excesso.
Quando as atividades do pensamento, visto
como as atividades dos sopros do Baço-Terra ao interior do metal, do Coração,
são excessivas, elas levam ao bloqueio.
Um exemplo de desequilíbrio pode ser a má
relação entre a Terra e a Madeira, o Baço e o Fígado, o pensamento que cria
ligações e a potência da imaginação e da cognição.
A REFLEXÃO OU
PROJETO, MOVIMENTO DO FÍGADO-MADEIRA
Uma noção se encontra muito regularmente
associada àquela do pensamento que pode voltar à obsessão. No Lingshu cap. 8, é a etapa que segue o pensamento (si 思) na elaboração do mental e da consciência:
“Que o pensamento
se desdobre ao longe e com força falar-se-á de reflexão (lü 慮).”
O pensamento (si 思) é então concebido mais como voltado para o que já foi adquirido, conhecido, como um aspecto yin de ligação e consolidação.
É necessário então adicionar-lhe seu aspecto yang complementar que trabalha
mais sobre o imaginário, a invenção, a projeção no futuro, para que o
pensamento seja completo e sirva para guiar a vida através das circunstâncias
sempre mutáveis.
“Quando o
pensamento, que se modificava e buscava, se inverte e se dirige para longe em
direção ao futuro, temos a reflexão.” (Taisu)
A expressão si lü 思慮 significa: refletir
intensamente (uma reflexão que normalmente chega a uma decisão); solicitude,
estar preocupado; pensamentos obsessivos e preocupações. São os mesmos
caracteres que, considerados positivamente, correspondem ao que entendemos por
"pensamento e reflexão", e que, considerados negativamente, são a
inquietação pungente, as preocupações, os aborrecimentos, a preocupação obsessiva.
Para transformar-se em projeto, o pensamento
precisa, além de uma consideração ampla e profunda e de uma grande envergadura,
do enraizamento ter permanecido sólido e o vínculo, firme no Coração.
Esta projeção reflete os sopros da Madeira,
que dão o impulso necessário para ir adiante, até o fim. A reflexão reflete a
capacidade do Fígado de gerir o mental, a inteligência, capacidade que faz dele
a morada das almas Hun.
A reflexão pertence ao Fígado, como o
pensamento pertence ao Baço. O simples pensamento reflete sobre elementos já vivenciados; aprendem-se as lições da
experiência, medita-se, e, precisamente falando, cogita-se. Tira-se do húmus do
já visto, já vivido, o fruto de experiências aprendidas e assimiladas. É o
papel do Baço, que digere, assimila e transporta até as extremidades para
nutrir.
A reflexão projeta em direção ao futuro, a
fim de realizar o que ainda não ocorreu. Ela imagina, a partir do real. Ela é
capaz de analisar os elementos do pensamento para ver o que pode ser concebido
e realizado, permanecendo na realidade dos fatos e fiel à sua natureza própria.
“O Fígado tem o
cargo de comandante dos exércitos (jiang jun 將軍), análise de conjuntura e concepção de
planos (mou lü 謀慮) procedem.” (Suwen 8)
Como um general, o Fígado deve meditar e
refletir longamente, para estabelecer um plano de batalha inteligente e
sensato, livre das paixões, no qual a imaginação e a cogitação próprias aos Hun
seguem fielmente a inspiração dos espíritos, a fim de garantir uma eficácia
máxima.
O caracter da reflexão, lü 慮, ilustra bem o que ela é. Ele é formado das
listras do tigre 虍 envolvendo o pensamento 思. Lü 慮 significa: Projeto - concepção
de planos - meditação - refletir - considerar atentamente - conjecturar -
avaliar - premeditar - zelar - ter
cautela - solicitude - preocupação -
dúvida - incerteza.
O tigre salta poderosamente e longe, cai no
lugar exato e detém sua presa no solo, imobilizando-a. O mesmo tigre permanence imóvel, até no olhar que vigia sem
piscar, horas a fio. Ele espera. As listras revelam sua natureza. O repouso
concentrado e o desencadeamento de um movimento calculado são os dois aspectos
da mesma virtude; dois aspectos que se destacam no desenho regular de
alternância da cor sobre uma pelagem fina e abundante.
As listras do tigre acrescentam ao pensamento
uma consideração atenta, por vezes mesmo uma preocupação, mas que permite ao
espírito arriscar-se, avaliar suas estimativas e planejar com conhecimento de causa.
Não há diferença entre a reflexão e o
projeto, a concepção dos planos. O Fígado impulsiona longe e com impetuosidade,
vai em frente, dá o impulso e o ímpeto: nada vai mais longe e em menos tempo do
que o olhar. E nós sabemos que o olhar é o irromper do Fígado, através do
orifício ocular.
Da mesma maneira que o Fígado-Madeira ajuda à
expansão do Baço-Terra para que as circulações se realizem bem e que tudo seja
distribuído sem obstrução, eis aqui o pensamento que se realiza através da
reflexão, que o leva para longe ao mesmo tempo em que lhe aumenta a potência.
Deve-se em seguida tomar uma decisão e
manter-se a ela firmemente, sem mais se preocupar em reconsiderar os
incovenientes e as vantagens de cada plano possível. Isto seria análogo a uma
obstrução do Fígado-Madeira pelo Baço-Terra, o que é também o ciclo de
contra-dominação dos Cinco elementos.
“O Fígado é o general do
Centro; sua decisão (jue 決) vem da Vesícula Biliar; e a faringe é seu menssageiro.
Um homem pode ter múltiplas análises de conjuntura e númerosas concepções de
planos (mou lü 謀慮), mas, se há um vazio na
Vesícula Biliar, ele não toma decisão (bu
jue 不決 ).”
(Suwen 47)
O vazio da Vesícula Biliar, dinamismo yang da
Madeira, enfraquece a determinação e impede a passagem à ação. Não mais é a
obsessão fixa sobre um único pensamento; é a multiplicação desordenada dos
pensamentos. Não mais se teme morrer afogado; imaginam-se mil mortes; não mais
se considera uma dificuldade, inventam-se dez mil. Mas sem concluir em nada. O
delírio da perseguição e a paranóia não estão longe.
A OBSESSÃO DO
DESEJO
Ter uma idéia fixa não é necessariamente um
pensamento obsessivo, isto pode ser um desejo. O melhor exemplo ainda é a
obsessão sexual:
“O pensamento
carregado de preocupação (si xiang 思想) pratica indefinidamente, sem que se chegue
a obter o que se aspira; o propósito (yi
意) se distribui sem controle ao exterior;
pratica-se intensamente o quarto de deitar (atividades sexuais); então o
músculo ancestral (zong jin 宗筋 ) se afrouxa até o completo relaxamento.E se produz impotências no muscular (jin wei 筋痿), até causar
escoamentos incontrolados da substância branca.” (Suwen 44)
O desejo não logra ser satisfeito, seja por não
ser realizado, seja por que se quer sempre mais. A pessoa perde o controle de
seus pensamentos e desejos, que são imantados para o exterior; o que impede de
voltar a si. O desregramento da conduta se traduz por uma sexualidade desenfreada
que desgasta as essências e os sopros e prejudica os Rins.
Entretanto o bloqueio resultante da obsessão
agitada gera um calor reativo: o fogo do desejo. Este fogo contribui para a
deterioração das essências e dos sopros. O sangue enfraquecido já não dá força e vigor aos movimentos
musculares, o que se traduz em particular por uma falha de ereção (relaxamento do músculo ancestral) e em geral por
paralisias flácidas devido à falta de irrigação e de força nos músculos
(impotência do muscular). Empurradas para fora do corpo pelo fogo interno, ou
se escoando devido à falta de sopros para as reterem, as essências se perdem, por
exemplo, em espermatorréia (escoamentos incontrolados da substância branca).
PENSAMENTOS
OBSESSIVOS E PREOCUPAÇÃO ESVAZIAM O CORAÇÃO
O Coração já não
consegue manter as circulações vitais
O Coração pulsa o sangue no corpo. Tudo o que
bloqueia ou enfraquece os sopros capazes de dar este impulso esgota o Coração e atrapalha suas comunicações.
“Sob o efeito da
opressão e do pesar, dos pensamentos obsessivos e preocupações (you chou si lü 憂愁思慮 ), o Coração é prejudicado.” (Suwen 73)
“Em caso de preocupação
e de opressão (si you 思憂), o conjunto das conexões do Coração (xin xi 心系 ) aperta-se (ji 急 ); estando assim apertado, o caminho dos
sopros ficam estreitados (yue 約); estando estreitados, já não há fluidez.” (Lingshu
28)
Os pensamentos (si 思) obsessivos e o pesar (you 憂) se aliam para impedir as ciruculações do sangue e
as comunicações do Coração com todo o corpo, em particular os órgãos. Ver
adiante o estudo do pesar opressivo (you
憂).
Entre Baço e Coração
“ [...] diagnostica-se
um acúmulo de sopros no centro. Tem-se frequentemente danos ligados à
alimentação. O nome é Bloqueio do Coração (xin
bi 心痹). Contrai-se este mal através de danos exteriores,
pois os perversos exteriores beneficiam-se do vazio do Coração causado por
pensamentos obsessivos e preocupações
(si lü 思慮).” (Suwen 10)
Os recursos do Coração são mobilizados pelos pensamentos
obsessivos, e a capacidade dos seus sopros enfraquece. Os sopros do Coração e
do peito são solidários dos sopros yang que asseguram a defesa do organismo;
quando estes últimos estão diminuídos, as agressões dos perversos externos são
mais fáceis e mais virulentas, o que agrava a situação e enfraquece ainda mais os
sopros que já não são capazes de assegurar as boas circulações. Estes se
acumulam no peito e bloqueiam o Aquecedor Médio; são os bloqueios (bi 痹) do Coração. O Coração gasta seus recursos e suas forças re-considerando
pensamentos obsessivos e pesarosos.
Em termos de ciclo de geração, dirá-se que o
fogo do Coração, tornado impotente, não mais consegue vivificar o Baço, do qual o yang se encontra muito fraco para
assegurar distribuições e transmissões. De onde vem o bloqueio sobre a
alimentação, um freio particularmente aos movimentos de descida assegurados
pelo Estômago. Come-se menos, digere-se mal... O enfraquecimento do Baço agrava
a obstrução causada por pensamentos
parasitas e repetitivos.
“Quando o Coração
é acometido pela apreensão e pela ansiedade (chu ti 怵惕), pelos
pensamentos obsessivos e pelas preocupações (si lü 思慮), os espíritos (shen 神) ficam prejudicados. Prejudicados os
espíritos, sob o efeito do medo e do temor (kong
ju 恐懼), o indivíduo
perde a posse de si mesmo; as formas arredondadas se descarnam e a massa da
carne fica devastada.” (Lingshu 8)
Aqui já não se trata de um pensamento justo,
que se desdobra com força ao longe em
uma reflexão apropriada, capaz de organizar todos os elementos de uma situação
ou de um ser, do meu ser. A apreensão e a ansiedade, instaladas nas profundezas
do Coração, o tornam incapaz. Neste estado, os pensamentos e reflexões, que
deveriam nos aclarar, estão desequilibrados, agravando a situação. Espada de
dois gumes, pensamento e reflexão, mal conduzidos, se voltam contra aquele que
os abriga, prejudicando os espíritos do Coração. O indivíduo se faz mal por
seus próprios pensamentos, se tormenta por uma caricatura de sua reflexão. Ele aumenta
a falta de posse de si mesmo, através do mau uso.
O Baço está enfraquecido, vazio daquilo que
deveria vivificá-lo: o Coração que é o Fogo. É a força de expansão do Fogo que
sustenta o movimento de distribuição
dos nutrientes nas espessuras da carne, movimento da Terra, próprio ao Baço. Em
caso de fraqueza deste Fogo, o Baço já não tem força nem para distribuir, nem
mesmo para transformar, isto é, assimilar as essências nutritivas liberadas
pela digestão.
O Baço é atacado pelo que ele deveria dominar:
os Rins que são a Água. O Baço, pela sua capacidade de transformar e integrar a
umidade do corpo tempera e equilibra os líquidos, a água do corpo, sob
obediência dos Rins. Se o Baço, mal vivificado, perde sua aptidão de transformar,
metabolizar, assimilar e transportar, distribuir; então os líquidos, a Água, se
voltam contra ele, o inundam, o perturbam, o enfraquecem ainda mais o
obstruindo com umidade. Em conseqüência, a força yang dos Rins, os sopros, que
são encarregados de reter e transformar os líquidos no nível dos Rins, também
diminuem.
A destruição da forma corporal, visível no
emagrecimento, é consequente ao desperdício da vitalidade e à perda, pelo
escoamento, das essências (do Baço e dos Rins) incapazes de regenerar e nutrir
as carnes.
Um Coração livre
para pensar
Ter no Coração, uma idéia, um pensamento, um
objeto de solicitude é próprio ao homem. Mas fazer do pensamento uma
preocupação e um pensamento obsessivo, uma obsessão que corrói e consome, é uma perversão; seria melhor
um Coração vazio. O Santo não tem preocupação nem obsessão, ele se mantém na
vacuidade e na pura serenidade; ele não deixa murmurar nem proliferar idéias e
reflexões.
Não se é nunca mais profundamente pervertido
que pelo que tem uma ligação natural consigo. O Coração, lugar do pensamento,
será danificado e perturbado pelos
pensamentos. Perturba-se e usa-se o Coração através de pensamentos obsessivos e
preocupações, por um mau uso das suas capacidades de pensar e sentir; o que o entrega, chegado o momento, à agressão
dos perversos exteriores.
Um Coração invulnerável é um Coração vazio. Pois o Coração não está aí simplesmente para permitir a germinação dos pensamentos, ele é o que permite ao homem se dilatar nas dimensões Céu/Terra; nenhum pensamento obsessivo deve retê-lo nem diminui-lo; nenhum pensamento deve ocupá-lo em detrimento de sua visão e de sua Inteligência espiritual.
Um Coração invulnerável é um Coração vazio. Pois o Coração não está aí simplesmente para permitir a germinação dos pensamentos, ele é o que permite ao homem se dilatar nas dimensões Céu/Terra; nenhum pensamento obsessivo deve retê-lo nem diminui-lo; nenhum pensamento deve ocupá-lo em detrimento de sua visão e de sua Inteligência espiritual.
PENSAMENTO E
SANGUE
O Baço nutre o Coração e lhe permite assim
elaborar tanto o sangue quanto o pensamento. Diz–se às vezes que o pensamento
vem do Baço, mas se forma no Coração. É o mesmo para o sangue.
Pensamentos obsessivos, inquietações e
preocupações trazem ou denotam um mau funcionamento dos sopros do Baço. O Baço
se torna incapaz de nutrir corretamente o Coração.
Os sopros do Baço já não conseguem estabelecer
as ligações, manter a memória, receber as informações e tratá-las. As idéias e
imagens não se apresentam mais ao Coração em uma forma justa e frutífera.
Se o Baço não consegue fornecer líquidos suficientemente ricos, o sangue será muito pobre
para permitir a presença dos espíritos, da consciência. As essências serão insuficientes
para formar espíritos vitais (jing shen
精神) fortes. Ao lado dos sintomas consequentes ao empobrecimento do sangue,
tem-se problemas mentais.
O vazio de sangue do Coração pode dar atordoamento,
vertigens e problemas da visão, palpitações com uma sensação de mal estar e de
calor. A falta de expressão dos espíritos se traduz então em afobamento,
confusão, aturdimento.
A insuficiência dos espíritos do Coração traz
agitação, apreensão, ansiedade, falta de discernimento; mas também problemas do
sono, insônia, pesadelos.
O duplo dano de Coração e Baço
se manifesta por esquecimentos, perdas de memória; perdem-se as coisas;
falando, trocamos uma palavra por outra, torna-se incoerente... Fleuma pode se
formar no peito, nas proteções do Coração, e obstruir os orifícios do Coração,
levando assim à loucura.
Tradução :Andrea Jacusiel
* Extraído da apostila 'As Emoções', editada pela E.E.A.
http://www.acupuncture-europe.org/boutique/
Tradução :Andrea Jacusiel
* Extraído da apostila 'As Emoções', editada pela E.E.A.
http://www.acupuncture-europe.org/boutique/